ACORDO AGRÍCOLA MERCOSUL-EUROPA E A “RAIVA FRANCESA –
Conheça bem a história desse acordo.
Como presidente do Parlamento Latino-Americano participei de várias reuniões e debates, inclusive no plenário do Parlamento Europeu, sobre o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia (UE).
As negociações, iniciadas em 28 de junho de 1999, tiveram suspensão e posterior reinício em 2010, ganhando novo ímpeto em 2016.
Na última sexta, o acordo foi aceito pelos quatro países-membros fundadores do Mercosul – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai-, mesmo com a “raiva” demonstrada pela França.
Até agora, o Mercosul era o único grande parceiro comercial na América Latina com o qual a UE não tinha um acordo comercial preferencial.
Oposição da França
Quase 600 parlamentares franceses se opuseram, porém nenhum dos outros 26 países membros da UE demonstraram tal oposição frontal.
O acordo chega no momento certo, uma vez que a economia do Velho Continente está estagnada e o futuro presidente americano, Donald Trump, prometeu relançar as guerras comerciais, inclusive com a UE.
Alemanha e Espanha, consideram o tratado estratégico em meio às incertezas geopolíticas atuais.
Esses países estão com medo do fator Trump e o poder da China e Rússia na América do Sul.
Consumo produtos franceses
O acordo prevê regras que beneficiarão a Europa.
Os consumidores do Mercosul gostam de produtos europeus de alta qualidade, como vinhos, queijos, chocolates e carne suína.
Mas o Mercosul impõe altas tarifas sobre as importações desses e outros produtos europeus.
Por exemplo: vinho: 27%; Chocolate: 20%sas: 20-35% etc.
O acordo removerá essas altas tarifas, tornando mais fácil a exportação para o Mercosul produtos alimentícios e bebidas regionais de alta qualidade, como Prosciutto di Parma, Parmigiano Reggiano, Prosecco, conhaque e uísque irlandês.
Mesmo diante dessas evidencias, os agricultores franceses, acostumados com o excessivo protecionismo que recebem do governo, temem a concorrência dos produtos do Mercosul, especialmente a carne do Brasil, Argentina e Uruguai.
É provável que os produtos importados do Mercosul inundem o mercado a preços mais baixos do que a produção europeia e francesa.
Da mesma forma, nos setores farmacêutico e automotivo, os produtos europeus poderão dominar os mercados sul-americanos, ameaçando empregos locais.
Comércio livre
Diante de tais circunstancias econômicas e políticas, o acordo aprovado ainda passará por várias instancias de votação.
Queira Deus seja realmente implantado, o que significará a maior zona de comércio livre do planeta, cobrindo um quarto do PIB global e 720 milhões de pessoas.
Ney Lopes – jornalista, advogado e ex-deputado federal
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