ADEMIR RIBEIRO, O POETA-RADIALISTA –
A morte de Moraes Moreira me fez correlacioná-la com a de um amigo de longas datas, que atuava na radiofonia potiguar na Era de Ouro do rádio. Chamava-se Ademir Ribeiro de Macedo, dono de uma voz limpa, grave e marcante, comparada com a do locutor Luiz Jatobá, titular d’A Hora do Brasil.
Depois de quase 30 anos sem nos vermos, encontrei Ademir, num dia de Finados, em 2009, no bar do qual era frequentador assíduo. Após as saudações de praxe, ele puxou uma cadeira e me fez sentar. Então, relatou toda a sua trajetória de vida. Havia encontrado um ouvido amigo para desabafar suas alegrias e frustações.
Ademir foi o segundo dos três filhos de seu Luzinal e de dona Olívia, nascido em junho de 1939. Com menos de 20 anos de idade ingressou no rádio e nele trabalhou durante 37 anos – 28 na Rádio Poti e nove na Rádio Cabugi. Considerado portador da mais bela voz da radiofonia potiguar, além da boa fluência em inglês, fizeram dele um candidato natural para ser locutor da Voz da América; e assim se tornou por indicação de Luiz Maria Alves – diretor do grupo Diários Associados, no Estado.
O fato de ir morar nos Estados Unidos fez Ademir declinar do convite. O cargo foi preenchido por Hélio Costa que, mais adiante, se tornou apresentador do Fantástico, na Rede Globo, e deputado federal por Minas Gerais. Nosso Ademir também recusou convites para trabalhar nas Rádio Globo do Rio de Janeiro e Rádio Povo do Ceará, nessa última, na condição de noticiarista e diretor da emissora.
O Grande Matutino Poti, O Jornal da Integração e o Repórter Cabugi tinham uma dimensão especial na voz de Ademir Ribeiro; porém, o toque de emoção ficava por conta da crônica O nome do dia, publicada no Diário de Natal e lida na Rádio Poti. No quadro O poema que está faltando no coração da humanidade, ele recitava poemas de sua autoria e de variados poetas brasileiros e estrangeiros.
No O show da manhã, a vinheta insinuava ser aquela uma atração “nem melhor nem pior, apenas um programa um pouquinho diferente”. Ali, Ademir exercitava toda a versatilidade que possuía. Tamanho era o sentimento que imprimia aos seus textos, que dificilmente o ouvinte conseguia escutá-los com indiferença.
Por sua dedicação ao rádio, Ademir iniciou e não terminou os cursos de Ciências Contábeis e de Direito e, neste último, não se bacharelou devido ao descaso de não pagar uma única matéria do último ano. Teve dois casamentos e quatro filhos. Ao se aposentar, ainda em condições de trabalho, não o fez por falta de convite. Prendia-se ao raciocínio: Se eu tomar a iniciativa de me oferecer não serei valorizado.
The lonely man – O homem solitário -, foi o título dado ao seu último soneto escrito em inglês. Assim era como ele se sentia, um homem solitário. Não sei se ele conseguiu publicá-lo, porque não mais nos encontramos.
Quando lancei esta crônica, em 2009, no Diário de Natal, eu a intitulei O nome do dia, numa apropriação indébita que não me incomodou, porque eu homenageava um estimado amigo da minha juventude. Com o jornal em mãos, procurei Ademir para entregar um exemplar. Não o localizei e o deixei com o dono do bar.
Numa entrevista concedida em 2003, ao extinto Jornal Zona Sul, ele afirmou: A vida de aposentado está ótima. Tomo a minha Caranguejo todos os dias, fumo minhas quatro carteiras de cigarro… Apesar disso, tenho a voz ainda do mesmo jeito, com 65 anos de idade. Ademir Ribeiro, o poeta-radialista, faleceu em agosto de 2012, com 73 anos de idade.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor
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É sempre prazeirosa a leitura das suas crônicas no fim de semana.
Na maioria das vezes traz ensinamentos e com frequência posição sensata sobre assuntos da atualidade.
Agradeço pela oportunidade de conhecer o Ademir Ribeiro e pela sempre agradável leitura.
Obrigado, sobrinha, pela gentileza das palavras. Cuide-se bem aí no Rio, onde a coisa parece braba. Beijos.
Obrigado, sobrinha. Sempre gentil nos seus comentários. Beijo.