ADMIRAÇÃO E DESAMOR –
De todos, o acontecimento mais admirável é a vida. Somos habitantes da galáxia. Bilhões e bilhões de corpos inanimados e nós seres vivos. E, ainda mais, pensantes. Por essa razão, admiramos a natureza que Deus nos deu.
Observando bem, tudo é admirável: os animais e as plantas terrestres e aquáticas; as montanhas, as depressões, os vales, o vento, as nuvens, a cor do céu com os seus habitantes, os pássaros, e a visão das estrelas. Tudo é milagre porque não se pode descobrir a perfeita razão de ser.
As qualidades que mais enobrecem o homem, o amor e a amizade, exigem a admiração do parceiro. O filósofo pré-renascentista Giovanni Pico della Mirandola recomenda voltar-se para o bem. O amor impede o instinto animal, é a perfeição humana.
Admirar, do latim Ad mirare, é ver mais longe, significa olhar com encanto, o que leva o ser humano a respeitar, estimar e mesmo simpatizar com o outro.
A admiração estimula e até torna-se causa da criação da arte, da ciência, da tecnologia, ainda que seja verdade que a admiração exacerbada pode causar inveja e desamor, assim como a admiração excessiva dá corpo à bajulação.
A floração não seria o comportamento das plantas também para serem admiradas? Os intelectuais não trabalham também para serem admirados? Atentemos que o plágio é inveja causada pela admiração.
O cantador paraibano Manoel Xudu ficou feliz por ter sido convidado por uma senhora para cantar em sua fazenda, no nosso Seridó. Ao chegar, encontrou a mulher, seu marido e mais três pessoas. Perguntou: “Cadê o povo? Cantador quer ser querido por todos e precisa saber de temas admiráveis”. Ela respondeu que o marido havia feito um açude admirável. Por fim, queixou-se de uma dor de cabeça que voltava de meia em meia hora. Xudu se entristeceu, mas cantou porque precisava ganhar a viagem. Finaliza dizendo: “me admira é o pica-pau / o mês de ouro de Angico / tem hora que é taco taco / tem hora que é tico tico / nem sente dor de cabeça/ nem quebra a ponta do bico”.
O desamor é sempre omissivo, desafeição, indiferença. A raiva é um desamor doentio e o ódio é um desamor enlouquecido. Ambos são limitações da perfeição humana.
Desamor é desconhecer. Quem admira procura conhecer mais profundamente o objeto amado. Reconhecer a beleza, certamente, eleva o espírito. Quem perde a capacidade de admirar perde o presente e o futuro.
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN
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