Além de gostar de quindim, minha mãe também gostava muito da canção “Os Quindins de Iaiá” (de 1941), que cantarolava, embalando o filho caçula, como se fosse uma canção de ninar.
Sem dúvida, foi dela que herdei a preferência por quindim, que conservo até hoje.
“Aquarela do Brasil”, também da autoria do grande compositor Ary Barroso, foi a música que consolidou o estilo samba-exaltação, e ajudou a elevar o gênero samba à categoria de símbolo musical nacional.
Filho do advogado João Evangelista Barroso e Angelina de Resende Barroso, Ary Barroso ficou órfão aos 6 anos de idade. Os pais foram vítimas da tuberculose.
Ary Barroso foi criado pela tia avó, a professora de piano Ritinha, que o introduziu na música. Com 12 anos de idade já trabalhava como pianista auxiliar no Cinema Ideal de Ubá (MG), acompanhando os filmes mudos. Com 15 anos, começou a compor.
Com 18 anos, recebeu uma herança do tio Sabino Barroso, ex-ministro da Fazenda, e partiu para estudar Direito no Rio de Janeiro. Morava numa pensão de luxo, frequentava os melhores restaurantes e comprava as melhores roupas.
Quando o dinheiro acabou, passou a tocar piano em cinemas e cabarés, para se sustentar. Acabou gostando da boemia carioca.
Em 1923, passou a tocar na orquestra do maestro Sebastião Cirino, na sala de espera do teatro Carlos Gomes.
Em 1929, Ary voltou para o Rio de Janeiro. De pensão em pensão, foi parar na Rua André Cavalcanti, 50. Gostou das acomodações e da filha da dona da pensão, Ivone Belfort de Arantes. A família não concordava com o casamento de Ivone com o pianista boêmio.
Depois de ganhar um concurso de música carnavalesca com a marchinha “Dá Nela”, Ary pode pagar as despesas, e com o diploma de bacharel em direito, conquistado em 26 de fevereiro de 1930, pode se casar com Ivone. Ainda morando na pensão, nasceram os filhos Flávio Rubens e Mariúzia.
Em 1932, Ary Barroso ingressou na Rádio Philips a convite de Renato Murse. Além de pianista, foi humorista, animador e locutor esportivo.
Em 1933, enfrentou uma grande crise pessoal, quando perdeu a esposa Ivone e a avó no mesmo ano.
Depois da Rádio Philips, Ary foi para a Mayrink Veiga, e de lá, em 1934 foi para a Cosmos, em São Paulo, época em que criou o programa “Hora H”. Exigia que os calouros cantassem apenas músicas brasileiras e que citassem o nome do compositor.
Carmem Miranda foi uma de suas principais intérpretes e também grande amiga, com quem passeava nas ruas do Rio. O sucesso de “Aquarela do Brasil” na voz da cantora, fez com que Ary Barroso se transformasse em compositor e arranjador de filmes de Hollywood.
Ary Barroso notabilizou-se pelas músicas “Aquarela do Brasil, “Na Baixa do Sapateiro”, “Os Quindins de Yaiá” “No Tabuleiro da Baiana” e outras.
Retratou em suas canções, muitos aspectos do cotidiano popular. O samba esteve presente na maior parte de suas músicas, mas também estiveram presentes o xote, o choro, o foxtrote e a marcha.
Foi convidado, em 1936, para ser locutor na Rádio Cruzeiro do Sul. Apesar de já ser um compositor de sucesso, a atividade de locutor e comentarista esportivo se tornaria uma marca registrada de sua carreira.
Seus programas de calouro ficaram famosos e em 1937 inovou com um sino, para eliminar os calouros na Rádio Cruzeiro do Sul, no Rio de Janeiro. Quando foi para a Rádio Tupi, instituiu o gongo.
Ary Barroso, portanto, foi o precursor do gongo, imitado em programas de calouros, na televisão, tipo “A Buzina do Chacrinha” do apresentador José Abelardo Barbosa de Medeiros, mais conhecido como Chacrinha (1917 – 1988), que muito divertiu os telespectadores brasileiros, com seus jargões engraçados.