Depois do certame mundial de futebol, com estádios caros e falhos, de obras de mobilidade urbana inacabadas, vamos partir para outra copa com mais respostas e menos dúvidas. Com mais seriedade. Nessa o povo será ouvido. Porque se tivesse sido consultado sobre as despesas que subiram a patamares estratosféricos obliterando a saúde decente, a segurança da cidadania e a educação da criança – com certeza haveria pronta recusa. Já que o preço foi esse: cínico, hipócrita, mentiroso, circo sem pão e caixa político – a desgraça está feita. Assumamos as feições das circunstâncias e recebamos bem os visitantes que vão chegar. Eles não são culpados. Agora, somos nós, os brasileiros, os anfitriões e não a famigerada Fifa que garfou a nossa soberania porque o governo abriu as pernas.
Na copa, depois da que vai começar, não haverá propaganda enganosa como a da Petrobrás agora, só para encobrir os erros e falcatruas das compras das refinarias falidas no exterior. Na copa do Felipão, vamos torcer pelo Brasil dentro do campo, sem escaramuças, violências, depredações. “Se já tá dentro, deixe”. A vez de disputar a copa da democracia, do banimento da corrupção no país, nos estados e nas prefeituras é após o apito final do jogo que definirá o campeão do mundo. O palco sai do colosso dos estádios para as ruas e avenidas. Não devemos esquecer de que, quem derrota o mau político ou o governo medíocre, não é o vandalismo mas o voto nas urnas. Devemos nos convencer que o país vive atualmente um clima de mudanças. O povo cansou de votar em políticos profissionais que desejam a perpetuação do comando do poder público, prevalecendo-se da legislação eleitoral frouxa, fáctil e fácil do instituto da reeleição com a bunda na cadeira oficial e no dinheiro do povo.
Outro capítulo a ser resolvido sem a perda da dignidade histórica e patrimonial é o destino do aeroporto Augusto Severo, após a copa. Ainda nela ele irá prestar os seus assinalados serviços de embarque e desembarque de passageiros. Sagrou-se, há pouco tempo, como um dos cinco melhores aeroportos do país. Por que reduzi-lo a terminal rodoviário ou a shopping? Ele é o mais próximo do centro econômico de Natal, às margens de uma BR, diminuindo em tempo e serviços a sua operacionalidade e utilidade. Inúmeras capitais do Brasil possuem funcionando dois aeroportos. Torno a repetir: por que não repensar que Natal hospeda um notável evento internacional de futebol e já atinge níveis significativos de turismo? As autoridades não elaboraram ainda um projeto alternativo de reativação do Augusto Severo a altura de sua importância estratégica. Confiamos na Aeronáutica para que defenda aquela área de defesa estratégica e não para especulação imobiliária
Por último, registramos que nada temos contra o aeroporto Aluízio Alves. Ele representa o desenvolvimento e o futuro do Rio Grande do Norte. A ressalva fica resumida somente ao hábito condenável de se destruir o que ainda pode e deveria ser útil pelo novo, caro e oneroso ao erário público, como fizeram com o demolido estádio João Cláudio Machado.
Depois da copa, a sociedade e os segmentos representativos têm que ser ouvidos para que não se perpetue mais uma ignomínia de desrespeito ao povo. No mais, vamos assistir a copa do mundo, em paz, torcendo pelo Brasil e acolhendo cordialmente os visitantes. Mas, depois da copa, vamos lavar aqui mesmo a nossa roupa porque é coisa nossa. Lembrem-se que o povo está acima dos partidos políticos e dos interesses de grupos. Mas, somente depois da copa de futebol. O aeroporto Augusto Severo é glória, história e patrimônio do povo brasileiro.
Valério Mesquita – Escritor, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do RN Mesquita.valerio@gmail.com
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