O caso das brasileiras que ficaram presas na Alemanha porque traficantes de drogas trocaram a etiqueta da bagagem delas levou a uma mudança de procedimentos na área interna do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. A novidade vai vigorar a partir do mês que vem.
As áreas por onde circulam as milhares de bagagens e mercadorias que passam diariamente pelo maior aeroporto do país sempre foram motivo de preocupação para as autoridades, mas, nos últimos dois anos e meio, isso se intensificou.
Nesse período, a Polícia Federal prendeu mais de 100 funcionários terceirizados que trabalhavam no local – a maioria por tráfico de drogas.
“Eles aliciam pessoal assim que eles são contratados e, muitas vezes, eles já são aliciados antes da contratação. Tem casos de que um funcionário, que já faz parte da organização, acaba indicando um colega ou um amigo; alguém que, depois, a gente descobre que também está traficando”, conta Felipe Lavareda, delegado do aeroporto de Guarulhos.
Um desses casos aconteceu em março: duas brasileiras de Goiânia, que fizeram conexão no Aeroporto Internacional de São Paulo, foram presas na Alemanha depois que um funcionário colocou as etiquetas de identificação da bagagem delas em duas malas carregadas com 40 quilos de cocaína.
Katyna Baia e Jeanne Paollini passaram mais de um mês na cadeia até que a justiça alemã reconheceu as provas enviadas pelo governo brasileiro de que elas eram inocentes.
“Esse fato foi péssimo. Foi para a imagem do país; principalmente para as duas brasileiras foi muito ruim. Mas trouxe uma facilidade do entendimento que a gente precisa ser mais assertivo nas ações. A facilidade que a gente tem com a tecnologia no dia a dia, infelizmente, as quadrilhas também se utilizam dessas facilidades, o que obviamente dificulta a atuação das autoridades”, explica Mário De Marco, auditor fiscal da Receita Federal e delegado da Alfândega do aeroporto de Guarulhos.
Na ocasião, a Polícia Federal descobriu que os traficantes usaram o celular para combinar a troca das etiquetas. A partir do mês que vem, o uso de telefone celular por funcionários em pontos mais sensíveis do terminal de cargas será proibido.
“Aqui é área sensível. Aqui, nós precisamos garantir que nenhuma informação saia desse ambiente”, mostra André Luiz Gonçalves Martins, delegado-adjunto da Alfândega da Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos.
Nas áreas restritas do terminal de passageiros e no pátio dos aviões, dois locais de fluxo das bagagens, só poderão ser utilizados aparelhos autorizados pelas empresas. Eles não podem ser usados para fins pessoais e o registro de fotos e vídeos deverá bloqueado.
“Essa é uma área também muito importante de segurança do aeroporto e, para que se garanta a integridade da mala do viajante, é importante que se restrinja a captação de imagens e a comunicação entre as pessoas que aqui trabalham”, ressalta André.
Mesmo em um lugar vigiado por mais de 2.500 câmeras, ainda existem pontos cegos. Em um documento encaminhado na semana passada à Receita, ao Ministério Público e à administração do aeroporto, a Polícia Federal apontou uma série de falhas no monitoramento do terminal e recomendou a instalação imediata de mais câmeras.
O procurador da república Guilherme Rocha Göpfert acompanha as discussões sobre a segurança do aeroporto e quer que a concessionária que administra o terminal se comprometa a fazer esse e outros ajustes o quanto antes, para que o drama das brasileiras presas injustamente na Alemanha, não volte a acontecer.
“Se teve essa falha, o que o MPF faz? Chama a Polícia Federal, chama a Receita Federal, chama a concessionária – todos os órgãos envolvidos – e cobra a responsabilidade de cada um. O que a gente busca aqui? Que esse sofrimento que foi passado, essa situação, essa tragédia que foi vivida por essas brasileiras, elas valham para que tragédias como essas não mais se repitam”, afirma Guilherme.
Fonte: G1