AÉTICO OU AMORAL – Antoir Mendes Santos

AÉTICO OU AMORAL –

Atualmente, se existe um vocábulo bastante utilizado no contexto social brasileiro, essa palavra chama-se Ética. Ao ouvir essa expressão, o  cidadão comum tem logo a impressão de que se está falando de ética profissional, como por exemplo, da ética médica, que permite  estabelecer uma necessária e indispensável relação de confiança entre os profissionais de saúde e todos àqueles que precisam de suas habilidades.

Todavia, se a expressão ética tem um significado mais amplo, tendo extrapolado os limites do relacionamento entre os profissionais liberais e seus pacientes/clientes, a falta de ética invadiu o dia a dia da sociedade, chegando com tudo em várias estâncias da atividade pública. Hoje, basta o cidadão comum acompanhar o noticiário local e/ou nacional para se espantar com a falta de decoro parlamentar, com à improbidade administrativa e com à malversação dos recursos públicos, e tudo isso sob à assertiva de que sem  transparência e ética não poderemos avançar na vida democrática.

Mas, afinal de contas qual o significado da palavra Ética ? Vinda do grego ethos, essa palavra quer dizer “modo de ser” ou “caráter” que o homem adquire ou conquista. Segundo Adolfo Sanches Vázquez, pode-se definir ética como sendo um conjunto sistemático de conhecimentos racionais e objetivos a respeito do comportamento humano e da moral, Para o autor, “muitas vezes se confunde a ética com a moral: enquanto a primeira significa a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, a outra quer dizer costume ou conjunto de normas ou regras adquiridas, com o passar do tempo”.

Neste contexto, há que se perguntar: até que ponto os nossos legisladores ou mesmo funcionários públicos qualificados estão preocupados com a ética e a moral em suas ações? Ou, alternativamente, até quando o cidadão comum irá se manter passivo diante da imoralidade e da falta de ética de seus legítimos representantes? Não sei ! O fato é que a garantia da impunidade vem fazendo escola em vários segmentos da administração pública do país, na medida em que muitos confundem a liberdade que o cargo oferece, na utilização dos recursos públicos, com a libertinagem na manipulação desses mesmos recursos, em benefício próprio.

É evidente que o descompromisso com a ética na atividade pública não foi inventado agora, ele existe há muito tempo. Contudo, a julgar pela incidência de fatos e acontecimentos recentemente relatados pela mídia, envolvendo parlamentares e servidores federais, das mais diversas matizes, a moral e os bons costumes foram deixados de lado nessas últimas legislaturas.                         São parlamentares julgados e com o passado pouco recomendável candidatando-se e assumindo cargos eletivos (os famosos fichas sujas); servidores ostentando patrimônios incompatíveis com suas remunerações, fruto de propinas; guardiães da lei recebendo penduricalhos que extrapolam o teto constitucional; funcionários fantasmas prestando serviços a alhures; políticos bancando viagens de parentes e aderentes com o dinheiro do contribuinte; e ministros se locupletando de seus cargos para obterem vantagens pessoais.

E o mais inusitado nisso tudo, é a cara-de-pau com que essas figuras ilustres se apresentam na mídia e nas redes sociais, para justificar os seus atos perante a sociedade. Dizem eles: a legislação é omissa (e, por conseguinte, permite); a família é sagrada e, como tal, precisa ser bem tratada; estou à disposição da justiça e meus advogados irão provar minha inocência; e os auxílios são a forma de compensar à falta de reajustes nos vencimentos;  e…. vai por aí !

É importante lembrar que beneficiados pelo corporativismo das Casas Legislativas, que avocam para si o julgamento de suas excelências, os parlamentares vão escapando de serem penalizados, enquanto que os demais transgressores da ética e da moral apostam na sapiência de seus advogados, contratados a peso de ouro, e na morosidade das instâncias judiciais.

 

Antoir Mendes SantosEconomista

 

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