Encerradas as convenções, dia 30, e deflagrada a luta nas ruas, dia 6, não cabe mais perguntar a cada exército por sua história. Seria inócuo, iniciados os combates, procurar na literatura política explicações agora que só a prática pode demonstrar. O combate será a nova fase que começa, para a vitória ou a derrota. E a julgar pelo desempenho dos candidatos, cada um levando a tradição de sua própria história para garantir compromissos numa sociedade exausta de tão cansada das decepções.
O conceito da campanha pemedebista assume a mudança como o maior desejo coletivo, e faz dos grandes nomes da aliança – Henrique, Wilma e Garibaldi – os signatários do compromisso de mudar o jeito de governar. É como se os três nomes, o presidente da Câmara Federal e dois ex-governadores – cada um deles com a experiência vitoriosa de dois governos – fossem a chancela desse pacto que já não pode ser substituído por qualquer insegurança, sob pena de levar o Estado ao caos.
A estratégia peemedebista, por mais que se tenha idiossincrasias pessoais ou ideológicas, é de um peso inegável pela consagradora posição que os dois ex-governadores desfrutam nas pesquisas de avaliação. Além da força da ex-governadora Wilma de Maria, ícone da oposição ao Governo Rosalba Ciarlini, nascido do confronto que o governo elegeu como tática de um discurso que falava de uma herança maldita diante de um povo sem segurança e sem saúde, mas cercado de obras monumentais.
Do outro lado o desafio da oposição é erguer um discurso que não discorde do desejo coletivo de mudança – a essa altura inegociável para a sociedade – mas que seja capaz de apresentá-la como a mudança segura e ideal sem levar no seu espelho os rostos de uma tradição que, bem ou mal, o eleitor conhece e aprova. O novo, por si só, tem sempre um sentido positivo, mas é preciso revesti-lo de uma bem dosada ousadia, capaz de fascinar a multidão sem cair no avanço que não levou a lugar nenhum.
Pesa ainda contra as forças da oposição a teia das conservadoras lutas locais, onde a vitória de um lado nem sempre é a derrota do outro no sentido dos polos da sucessão. As lideranças locais, se fortes, impõem o rumo da disputa. Cessado o combate, resta saber a quem a liderança local vitoriosa levará seu apoio. Assim como resta à oposição o charme da luta dos fracos contra os fortes repetindo o exemplo clássico e já eterno daquele pequeno David que com sua funda abateu o gigante Golias.
Esse cortejo atravessará as fogueiras de São João ardendo entre as dúvidas e certezas, até seu destino que é fazer, de julho a setembro, o tempo da provação. De um lado, a legião dos que levam o estandarte da mudança. Do outro, os que desejam simbolizar a renovação. Numa campanha estranha, onde ninguém quer ser situação ou representa, de fato, a oposição. Enquanto ao governo, abandonado sobre as próprias ruínas, não é dado saber, sequer, quem são os seus correligionários e adversários.
Vicente Serejo – Jornalista e Escritor