DALTON MELO DE ANDRADE

Dalton Mello de Andrade

Fosse eu dramático, shakespeariano, diria que o país vive momentos tenebrosos. Como não sou, estou mais para Bob Hope (que já tem esperança no nome), digo apenas que atravessamos horas difíceis, muito difíceis. Muitos advogam o impeachment, ou a renuncia, da presidente. Eu me pergunto: resolve? Botar quem no lugar? E aí está o grande problema. Falta uma liderança, real liderança. Como tivemos no passado. Não muitos, mas sempre surgiam alguns. Hoje, olha-se ao redor e não se vê ninguém.

Eu, pelo menos, não vejo. Se alguém enxergar alguma liderança ressurgente, me avise. Mas não me venham com o conselho de Francisco, o papa, que numa vinheta veiculada pela Globo aconselha aos jovens: sejam revolucionários. Lembro-me que ele disse isso num discurso na reunião de jovens no Rio, mas não me lembro o contexto, que provavelmente explicaria o por que do conselho. Mas, fora do contexto, como na vinheta, a dedução é sua, que pode ser para pegar um fuzil e sair atirando por aí para derrubar o governo. Ou pode ser um conselho para tomar uma e esquecer os problemas. Eu prefiro tomar uma.

Você abre os jornais, ou os lê na internet (que não suja as mãos), liga a TV, ou conversa com alguém e o assunto é o mesmo. Inflação, insegurança, saúde problemática, educação cada dia pior. Greves e mais greves, algumas justas, outras nem tanto. Mas todas prejudicando o nosso dia a dia. Desentendimento e desencontro entre os políticos, entre o Congresso e o governo, perdidos, todos, sem saber que caminho seguir. Um governo sem rumo, e um Congresso sem bússola. Minto, o Congresso tem bússola, que só aponta um caminho: o do autobenefício.

A indústria, o comércio, os consumidores, com uma só preocupação. Como sair dessa, como se salvar de um desastre anunciado? O que fazer? Inegável, o governo tem tentado, mas nada até agora funcionou. O Congresso não tem ajudado. Dólar nas alturas, essas empresas de risco informando que o risco Brasil é um fato. Penalizando o pais e, por extensão, suas empresas. Falta de confiança generalizada, inclusive dos brasileiros. Desconfiança que só vem crescendo. Confesso que fico até com medo de ligar a TV ou ler os jornais. Esse descalabro me afeta, como afeta a todos. Mas, temos que estar informados, mesmo minimamente, pois aqui vivemos e aqui temos que enfrentar os problemas. E ajudar a resolvê-los, da forma que pudermos.

Até a luz no fim do túnel, que sempre a gente via no passado, está ameaçada, com a energia elétrica à preços exorbitantes e, pior, com a ameaça de racionamento. Um Deus nos acuda. Mas, não vamos esmorecer. Como dizia Churchill, “Never Surrender”  –  nunca se renda, nunca se entregue. O meu otimismo (seguindo um comentário que escutei de certa pessoa, inocência de caduco) continua vivo. Coragem, isso tudo passa e dias melhores virão. Na minha idade, não sei se os verei. Mas, bola pra frente que o Real Madrid não é de nada.

Dalton Mello de Andrade, Ex secretário de Educação do RN

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