Aí SÃO OUTROS QUINHENTOS! – Violante Pimentel

AÍ SÃO OUTROS QUINHENTOS! –
Este ditado popular veio de  Portugal há mais de três séculos, e ainda hoje permanece atual.
Nesse mesmo sentido, Walter Barelli, Ex-ministro do Trabalho do governo Itamar Franco (1992 a 1995), costumava dizer:  “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.”
Somente não enxerga as diferenças quem estiver acometido da cegueira política. E o maior cego que existe é aquele que não quer ver.
No Tesouro da Língua Portuguesa, de Frei Domingos Vieira (2ª edição, Lisboa 1874), consta:  “Isto são outros quinhentos” quer, indignado, dizer que nem todas as coisas são iguais. Cada caso é um caso.
A parte decente do Brasil, cada vez mais indignada, vê as injustiças tomando corpo e o espírito do mal tentando aniquilar o cidadão de bem.
Enquanto isso, a banda estragada está destruindo a sociedade brasileira.
A expressão “Aí são outros quinhentos” continua sendo usada, com o mesmo sentido.
Segundo a História, a A frase vem de Portugal, na Península Ibérica, no século XIII. Surgiu a partir de uma lei que estipulava uma multa de 500 soldos a quem ofendesse um membro da nobreza. Caso houvesse reincidência, aí seriam cobrados “outros quinhentos”.
“São outros quinhentos!”,  segundo o Historiador e Folclorista potiguar, Luís da Câmara Cascudo, vale dizer: “ são outras razões; é um novo caso; outra penalidade.
Atentemo-nos, agora, para a obra “A Revolução dos Bichos”, da autoria de George Orwell.
Quando escrita em 1945, a obra causou mal-estar ao cenário literário e político da época, pois foi recebida como  uma sátira feroz da ditadura stalinista, e os soviéticos eram vistos como aliados  na luta contra o nazifascismo.
Para agravar a provocação, os líderes do regime totalitário da “Granja dos Bichos” eram os Porcos – o que soou como uma ofensa direta aos dirigentes russos. Realmente, a semelhança era incontestável. Era impossível não identificar nos expurgos, assassinatos, exílios e na distorção da memória histórica o que ocorria na União Soviética.
Poucos  anos depois, a situação se inverteu: com o acirramento da Guerra Fria, o Ocidente passou a usar a fábula política de George Orwell como arma ideológica anticomunista – situação incômoda para o próprio autor, que se professava socialista e havia lutado como voluntário ao lado dos republicanos na Guerra Civil Espanhola.
Hoje,  passadas várias décadas de profundas transformações no mundo, “A Revolução dos Bichos””, verdadeira obra-prima de George Orwell, resiste intacta, refletindo como um espelho os mecanismo do poder, onde  os diversos animais encarnam as fraquezas humanas, que levam à corrosão dos ideais igualitários e os transformam em tirania.
Pois bem. Falando sobre “A Revolução dos Bichos”:
“Cansados da exploração a que são submetidos pelos humanos, os animais da Granja dos Bichos  rebelam-se contra seus donos e tomam posse da fazenda, com o objetivo de instituir um sistema cooperativo e igualitário, sob o slogan “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”.
Mas não demora muito para que alguns bichos – em particular os porcos, que são mais inteligentes- voltem a usufruir de privilégios, restituindo aos poucos um regime de opressão, agora inspirado no lema “Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros.”
A história da insurreição libertária dos animais é reescrita, de modo a justificar a nova tirania. Os dissidentes desaparecem ou são silenciados à força.
A magnífica obra “A Revolução dos Bichos” foi inspirada na ditadura stalinista, e ainda hoje, decorridas várias décadas, continua se impondo como uma das mais importantes fábulas sobre o poder, produzidas pela literatura brasileira.
George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair (1903 – 1950), jornalista, crítico e romancista, foi considerado um dos mais importantes escritores do século XX.

Violante Pimentel – Escritora

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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