AÍ SIM, O TEMPO VOA –
Ultimamente, descansando na varanda de um hotel, estava a sonhar com a vida… os raios do sol ainda beijavam a relva, enquanto lá longe a lua, mesmo acanhada, despontava por trás da montanha. O ambiente era serrano e frio, o lugar mágico com paisagem paradisíaca e aroma inebriante. Um calmante natural capaz de causar bem-estar imediato, alegria instantânea e recordações inesquecíveis. Mal podia acreditar estar às vésperas de mais um dia de São Pedro, acabando a primeira metade do ano.
O meu pensamento girava em velocidade, lembrei que dias antes houvera folheado o jornal Gazeta de Alagoas datado de 29 de junho de 1969, trazendo as notícias de cinquenta anos atrás. Quase uma criança à época, hoje, encaro tudo o que estava ali escrito como notícias vivas em minha mente. As manchetes principais informavam ser “Vera Fisher, dezoito anos de idade, representando o estado de Santa Catarina, a nova Miss Brasil” e que “quatro dirigentes do banco central do Brasil, haviam sido presos por desviar a quantia de 232 milhões de cruzeiros novos da instituição.”
Nos idos de 1969, a programação da TV anunciava as novelas Legião dos Esquecidos, e Antônio Maria, tendo o Repórter Jorge Chau Show e Discoteca do Chacrinha para completar a noitada na telinha ainda em preto e branco. No Motonáutica, Casa da Bahia, Adega do Trapiche e Fenix, eventos agradáveis com “Evan e sua Sanfona”, “Jet Stones”, “Os Diamantes” e quadrilhas juninas, respectivamente, movimentavam a sociedade da nossa terra. Uma imensa fotografia de Januário e Margarida Procópio, caracterizados de matutos, encantava a todos.
O Supermercado Ceia, instalado na Sá e Albuquerque, anunciava a “mão de milho” por três cruzeiros novos. Na parte destinada aos indicadores profissionais, os médicos: Sampaio Luz, Djalma Breda, Osvaldo Brandão Vilela, Arlene Cavalcante, Glauco Manso, Duílio Marsiglia e Milton Henio anunciavam seus serviços, enquanto Paulo de Castro Silveira, escrevia artigo de opinião intitulado “Serás Chamado Pedro”.
Tudo está se acelerando. Um dia continua com 24 horas, uma hora vale 60 minutos e, cada minuto ainda tem 60 segundos – nem tudo está perdido. Mas há uma sensação generalizada de que não conseguimos fazer o desejado. Falta agenda. Pagamos fortunas por invenções tecnológicas, que deveriam facilitar nossa existência e continuamos com uma pressa insaciável.
Lembro de quando lendo Albert Einstein aprendi, estar o tempo e espaço profundamente entrelaçados. Para mim tudo parecia complexo, hoje compreendo que o fundamental para todos é enxergar tal dueto, como uma espécie de caminho a ser trilhado. Mesmo você, que agora está parado lendo este texto, ainda assim, está se movendo na vida. Afinal, os segundos estão passando, como um aeroplano a voar para o futuro, em um ritmo constante. Mas o segredo de tudo está na intensidade dos nossos movimentos.
Por tudo isto, estou convicto de que o tempo só passa depressa, quando estamos envolvidos com algo que nos faça prestar mais atenção no momento, que no ponteiro do relógio… aí sim, tudo voa.
Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras