A campanha política em Currais Novos, cidade potiguar de 41 mil habitantes que fica a cerca de 180 km de Natal , promove uma prática inusitada há quase uma década. Os “santinhos”, um dos principais materiais de divulgação dos números de urna de candidatos a prefeito e vereador, viraram itens de colecionador para os moradores do município que preenchem uma espécie de “álbum de figurinhas”.
Iniciada em 2016, essa tradição caiu no gosto da população e chegou à 3ªedição neste ano de 2024, atraindo colecionadores aficionados.
A produção dos álbuns passou a ser feita uma gráfica local, que vende cada um a pouco mais de R$ 50. Segundo a empresa, quase 100 exemplares foram vendidos em dois lotes de impressão realizados.
Já os cobiçados santinhos dos candidatos não são comercializados e precisam ser conseguidos pelos colecionadores durante a campanha nas ruas. Mas nem sempre é fácil.
É nessa hora que os colecionadores se ajudam. Todas as tardes, a própria gráfica vira ponto de encontro entre eles para tentar encontrar as “figurinhas” que faltam. Ao todo são 131 lacunas – entre candidatos a prefeito e vereador – distribuídas por 50 páginas.
A corrida para completar o álbum só é encerrada após o desfecho do pleito, quando a cidade conhece os candidatos eleitos. A partir daí, os colecionadores correm para preencher a área dos vencedores, com espaços para os 13 vereadores e o próximo prefeito.
“Durante a campanha, tento identificar os prováveis eleitos e já separo um santinho a mais. Quando sai o resultado, tenho menos trabalho para completar o álbum”, afirma o designer Jordan Torres, que é colecionador e também responsável por diagramar o álbum.
Como os santinhos não são produzidos pela gráfica, é comum que as lacunas sejam preenchidas por versões diferentes do mesmo candidato. O desafio, em alguns casos, é convencer alguns candidatos a cederem os materiais.
“Como eles sabem que não vamos, necessariamente, votar neles, alguns candidatos fazem jogo duro para liberar os santinhos. Mas a gente é paciente, com jogo de cintura, conseguimos”, afirma Wendell Macêdo, tabelião e colecionador.
Tradição começou em 2016
A tradição teve início em 2016, motivada após o exemplo trazido por um colecionador da cidade de Caicó, também do Seridó potiguar. A ideia foi abraçada pelos currais-novenses, que já tinham hábito de se reunir para juntos colecionarem outros álbuns, como o da Copa do Mundo.
A partir da ideia, a gráfica produziu um modelo inicial, mas o sucesso foi tanto que, ainda naquele ano, foi criada uma segunda versão, desta vez mais elaborada, que também teve boa procura.
O técnico de informática Samyr David é um dos colecionadores do grupo. Antes de conhecer a iniciativa da gráfica local, ele iniciou uma coleção por conta própria, com um álbum feito por ele.
“Eu sempre gostei de colecionar, então fiz por conta própria um álbum para guardar os santinhos. Conheci a ideia do álbum só depois e também corri para completar o álbum deles”, afirmou.
Interesse cresceu a cada eleição
Em 2020, em novas eleições municipais, o grupo viu a procura aumentar, com mais de 200 álbuns vendidos naquele ano. Teve quem colecionasse fazendo questão de fechar mais de um álbum no mesmo pleito.
Foi o exemplo do professor de educação física Miller Cavalcanti, que apenas em 2020 concluiu três exemplares do álbum.
Para isso, foram quase 800 santinhos reunidos até concluir essa missão. Ele participa do grupo desde 2016 e contou que faltam pouco mais de 30 santinhos para completar a versão deste ano.