ALECRIM, O BAIRRO –

O Alecrim é um dos bairros mais antigos e populares de Natal. Possui personalidade própria manifestada pela continuada referência à sua história e aos valores nela contidos. O nascido ou morador do Alecrim é fiel a tais tradições, atitude essa não encontrada em outros bairros da capital. O alecrinense, puro de origem, espiritualiza um estado quase catatônico de paixão por seu bairro.

Tudo isso guarda lá suas razões de ser. O originário do Alecrim não perde oportunidade para elogiar o seu bairro: a bela Igreja de São Pedro, o mais antigo cemitério da cidade, a mais famosa feira de Natal e um comércio inigualável ao ponto de ser tipificado, com bairrismo acentuado, com este bordão: Se não encontrou no Google, no Alecrim vai encontrar.

Embora sendo a quarta maior comunidade de Natal, o Alecrim somente foi considerado bairro em 1911. Antes, fora chamado de Refoles, Alto de Santa Cruz e Cais do Sertão. É duvidosa a verdadeira origem do nome do bairro: uns atribuem a ações de Ana Alecrim – que enfeitava os caixões de “anjos”, nos enterros, com ramos de alecrim; outros, à grande quantidade do arbusto alecrim-do-campo na localidade.

Em 1941, na II Guerra Mundial, a construção da Base Naval de Natal acelerou o processo de urbanização da comunidade e, o Alecrim, começou a obter vida própria. Surgiram os primeiros cinemas da capital – São Luiz, São Pedro, São Sebastião, Paroquial – e, a boemia intelectualizada da cidade, se estabeleceu no Bar Quitandinha, situado na Praça do Relógio – atual Praça Gentil Ferreira.

Alecrinense que se preze torce pelo Alecrim Futebol Clube – o verdão –, sete vezes campeão estadual, criado em 1915, onde consta como um dos fundadores o próprio goleiro do time, Café Filho, que viria ser o 18º presidente do Brasil. O forte comércio varejista e atacadista – principal atividade econômica da comunidade – é protegido pela Associação dos Empresários do Bairro do Alecrim-AEBA.

Existe outra característica do bairro, talvez a mais curiosa de todas: a numeração de ruas e avenidas. Vinte e duas das principais artérias do Alecrim foram identificadas apenas por números cardinais e tratadas, originalmente, como Av. 1, Av. 2, Av. 3… etc. Supunha-se ter sido ideia de norte-americanos quando sediados em Natal, entre 1942 e 1945, para distinguir as ruas do bairro. Tal ideia ruiu ao encontrarem registros de imóveis citando tais avenidas, bem antes da vinda dos gringos para a capital.

A confusão começou, em 1929, na gestão do prefeito Omar O’Grady, quando implantou o Plano de Sistematização da capital, criado pelo arquiteto-urbanista grego, Giacomo Palumbo. Com as ruas e avenidas bem traçadas O’Grady pediu ao IHGRN, na época presidido por Nestor dos Santos Lima, sugestões para identificar as novas artérias. Foram escolhidos nomes de presidentes da província do Rio Grande do Norte, no Brasil-Império e de tribos indígenas originárias da região.

As avenidas 1, 2, 3 passaram a ser reconhecidas como Presidente Quaresma (Basílio Quaresma Torreão), Presidente Bandeira e Presidente José Bento; enquanto as avenidas 6, 7, 8, foram nominadas como Rua dos Canindés, Rua das Caicós e Rua dos Pajeús, tal procedimento continuou em toda a sequência das avenidas numeradas.

Acontece de a numeração se tratar de uma tradição secular: os antigos alecrinenses não abdicam dos números nas artérias, tampouco a nova geração consegue se acostumar com a escolha de nomes de presidentes da província e de tribos indígenas.

Um meio termo, suponho, agradaria a todos. Bastaria adicionar nas placas de identificação dos logradouros, a numeração antiga já tão arraigada à história do bairro. Eis um exemplo: Avenida Presidente Sarmento e, abaixo, a complementação: Av. 4 ou antiga Av. 4. Fica o dito como sugestão.

 

 

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

2 respostas

  1. Narcélio cpntnua um excelente memorialista. Continua me devendo um livro. Pode até se candidatar para i.ortal da Academia Norterigrandense de Legtras aye já teve membrl que jamais ezscreveu um únicl livro a não ser agendas telefónica s que ele apelidava de Livro da Sociedade.

  2. Obrigado, Geraldo, se fosse pela sua bondade, certamente eu estaria na ANL. Como não sou membro, basta-me ter, amigo, leitores do seu naipe.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *