ALFAIATES NO BRASIL –
Os europeus sempre mantiveram tradições em vestir-se, impecavelmente, guardados os períodos com seus modismos.
Já afirmava George Bernard Shaw, ganhador de Prêmio Nobel de Literatura:
“O único homem que eu conheço que se comporta sensatamente é o meu alfaiate; ele toma minhas medidas novamente a cada vez que ele me vê. O resto continua com suas velhas medidas e espera que eu me encaixe nelas.”
Em Niterói, em 1950, aos 10 anos de idade, ganhei o primeiro terno com gravata ao conhecer o Rio de Janeiro, à época, Capital do país. Evocou-se o fato, certa vez, ao sensato e reservado amigo, Diógenes Cardoso, niteroiense, hoje, um dos mais afamados alfaiates do Brasil. Acrescentava, inclusive, ter recebido instrução, exclusivamente, em educandário de origem tedesca– o Deutschen Hilfsverein-, que primava por rígida apresentação pessoal. Tínhamos um uniforme impecável. Em Porto Alegre, durante festividades, usávamos ternos, ditos fatiotas. O corpo docente ministrava as aulas, a vestir paletós e gravatas. O alfaiate Grigoleto Maboni era uma referência gaúcha. Os smokings, negros e brancos, tinham suas ocasiões formais.
Uma geração europeizada e instruída!
Estudava-se latim, francês, inglês, espanhol e até caligrafia, também.
Hoje, aviltam a formação educacional do povo brasileiro, lamentavelmente.
Os tradicionais blazers, em azul marinho, trespassados, com botões dourados, que marcaram época, somente são encontráveis em Lisboa, que continua a manter qualidade e bom gosto na alfaiataria.
Em Brasília, a Academia Latino-Americana de Ciências Humanas realiza suas cerimônias anuais, com a roupagem do fraque, institucional, sob a liderança do Presidente Raul Canal, a abranger participantes de todo o território nacional.
Um verdadeiro oásis comportamental.
No Brasil, Diógenes Cardoso, um ícone da vestimenta masculina, continua a prestar seus inestimáveis trabalhos artesanais, no Rio de Janeiro, ora encontradiço na avenida Calógeras -6, CEP 20030-070, fone 021-9.9909.1414, enquanto a pandemia permitir. Vida longa, meu irmão das alfaias e paramentos.
O Amanhã, pós-pandêmico, ninguém sabe!
José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília