ALGUMAS HORAS DE FAMA –

Em 2017, em papo com meu colega, Tomaz Edson P. Guimarães, que havia retornado de Portugal, falou-se da invasão de tapiocarias em Lisboa. Derivamos a conversa para os cuidados na manufatura da mandioca in natura para eliminar o ácido cianídrico, visando impedir o cianeto na feitura da tapioca, veneno para nós humanos.

Resolvi escrever uma crônica sobre o tema que denominei “Tapioca pode Matar”. Até aí tudo bem! Dois ou três dias depois de publicada a matéria, estou em casa na sesta do almoço, quando avisam telefonema para mim. “Quem deseja falar?” – perguntei. “Dizem que é da Globo!”. Sem titubear, pedi: “Pode desligar. É trote!”

Insistiram nas chamadas e me propus atender para acabar de vez com as “gracinhas”. O cidadão ao saber com quem falava citou a minha matéria e pediu esclarecimentos gerais sobre o tema. Por fim perguntou se eu ainda comia tapioca. Ante o meu “Sim!” agradeceu e encerrou a ligação. Não entendi bulhufas.

Dia seguinte, pela manhã, disca-me o estimado médico, Gerson Dumaresq: “Narcelio, estou vendo você agora no programa Bem Estar, da Globo”. Apreensivo, liguei a TV e nada vi. Comecei a ficar preocupado com o que não sabia estar acontecendo.

Pouco tempo depois, Gerson, volta a ligar para informar que eu retornara a ser notícia. Agora no programa, “Encontro com Fátima Bernardes”. “Só pode ser brincadeira!” – imaginei. Busquei o canal citado e lá estava a minha foto em evidência ao lado do texto publicado no Blog Ponto de Vista. Ainda deu tempo de ver um carimbo sendo postado na minha face com a seguinte legenda: “É Mentira!”.

Interpretei aquilo como um alerta do tipo: “Cuidado! Bandido perigoso”. Quem disse que eu consegui ter paz ante tal carimbada no rosto? Qual cláusula do Código Penal eu havia infringido? Começava ali a minha Via Crucis.

Eu passei a acompanhar as visualizações do texto e vê-las crescer às dezenas, centenas e milhares. À medida que lia os comentários o pavor aumentava, pois eu havia mexido numa colmeia de abelhas africanas, as mais perigosas das espécies.

Desmentidos, explicações, perguntas, os mais diversos comentários, quando na verdade eu somente havia escrito e explicado que a tapioca poderia matar se a fécula que a originava não fosse tratada com os cuidados devidos para evitar os efeitos danosos do cianeto no organismo do consumidor.

Os pedidos de esclarecimentos provinham de diversos pontos do país e do exterior. Pela internet descobri a divulgação da matéria por outras redes de televisão. Aqui, em Natal, encontrei um conhecido num supermercado em papo animado com amigos, cumprimentei-o e, ao me afastar ouvi alguém lhe perguntar: “Quem é esse senhor?” Sua resposta: “É o homem da tapioca!”

Recordo um telefonema que recebi de brasileira residente na Dinamarca: “…Eu sou do Ceará, mas moro em Copenhague há vários anos. Meus pais continuam no meu estado e comem tapioca todos os dias. Por favor, qual a marca de tapioca segura que o senhor sugere para eles, pois são dois idosos?”. Dizer o quê?…

No Blog de Nelson Freire foram mais de 30 mil visualizações. Quanto às ramificações da matéria mundo afora não tenho a menor ideia, nem me preocupei em saber. Ficou-me a certeza de não possuir tato para lidar com esse tipo de fama. Prefiro o contato restrito dos amigos e afins, onde eu possa ser o desconhecido que sou.

Aleluia!

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil

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