ALVÍSSARAS! –

Natal ama dar alvíssaras, mesmo nestes tempos de tristezas do confinamento.

Os olhos do alvissareiro, na torre mais alta da cidade, viam o mar e o Potengi amado e também o casario, com suas árvores e jardins e, ao longe, as verdes dunas. Ele trazia a boa nova, fazia a exclamação visual da alegria, do auspício primeiro, da esperança eterna.

A função do alvissareiro confunde-se com um nome, João Irineu de Vasconcelos. A partir de 1862, esse ofício ímpar, de uma simplicidade única e fundamental, era permanecer no alto da Torre da Matriz. Ao avistar navio, levantava a bandeira, apontando-a para o Norte ou para o Sul, de acordo com a proveniência da embarcação. Seguia o Código Internacional de Sinais. Pela visibilidade e nitidez, a bandeira seria azul ou encarnada. As cores da alegria, como o pastoril.

Os escoteiros liderados pelo professor Luiz Soares (1888-1967) imitavam seu exemplo e iam ajudar, ficando de guarda para orientar os navios na entrada da barra. O escritor José Mauro de Vasconcelos (1920-1984) registrou: “Olhamos as bandeiras na torre da matriz. Meus olhos sonhavam com as bandeiras. Um dia iria para a Legião Estrangeira. As bandeiras significam liberdade e vida”.

Cascudo foi definitivo: “O Alvissareiro era o mágico indiferente às fantasmagorias que inundavam a cidade”.

Em 1983, publiquei “Natal, Poemas e Canções”, com belas ilustrações de Newton Navarro. Com a sugestão do verso “Maria é pura flor de pessoa”, ele fez a capa colocando Nossa Senhora dentro de uma flor. Tive aumentada a emoção ao ler o texto amigo e generoso do escritor Vicente Serejo sobre o livro:

“O alvissareiro tinha visão contemplativa da espera. Olhava de longe a tristeza de quem partia ou a alegria dos que chegavam à cidade. Imagino que o alvissareiro olhava o adeus das moças na despedida quase invisível e só ele sabia dizer a direção dos navios e para isso usava bandeiras indicando norte e sul.

Hoje, passados esses anos todos, Natal tem em Diogenes da Cunha Lima o alvissareiro do tempo novo. Que olha a cidade, seu rio, seu mar e seus morros e anuncia que é hora e dia de festa, tempo de Natal.

Não perguntei ao poeta Diogenes da Cunha Lima se ele olhou a cidade com olhos de alvissareiro. Só sei dizer que ele encontrou e viu um Cristo natalense, capaz de sentar num banco da praça Padre João Maria. E tão profundamente humano que bem poderia ser visto conversando na calçada do Café São Luiz.

E como um alvissareiro que ama sua cidade e protege seu povo, Diogenes da Cunha Lima escreveu um livro para ser presente de Natal”.

A palavra alvissareiro tem um levíssimo tom de sagrado, de recompensa. Origina-se do árabe, significando evangelho, e do grego, como boa nova.

Temos fundada esperança de que passada a pandemia, uma nova forma de vida melhor virá. Já se prenuncia com o maior apego à família, o trabalho feito em casa, o sentimento de sermos frágeis e que, portanto, devemos ser mais unidos e solidários.

 

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
Ponto de Vista

Recent Posts

COTAÇÕES DO DIA

DÓLAR COMERCIAL: R$ 5,8010 DÓLAR TURISMO: R$ 6,0380 EURO: R$ 6,0380 LIBRA: R$ 7,2480 PESO…

14 horas ago

Capitania dos Portos limita número de passageiros em embarcações de passeio nos parrachos de Rio do Fogo e Touros

A Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte divulgou nesta quinta-feira (21), a publicação…

14 horas ago

Natal em Natal: Árvore de Ponta Negra será acesa nesta sexta-feira (22)

O Natal em Natal 2024 começa oficialmente nesta sexta-feira (22) com o acendimento da árvore natalina de…

14 horas ago

Faz mal beber líquido durante as refeições? Segredo está na quantidade e no tipo de bebida

Você já ouviu que beber algum líquido enquanto come pode atrapalhar a digestão? Essa é…

14 horas ago

Alcione, Flávio Andradde e Festival DoSol: veja agenda cultural do fim de semana em Natal

O fim de semana em Natal tem opções diversas para quem deseja aproveitar. Alcione e Diogo Nogueira…

14 horas ago

PONTO DE VISTA ESPORTE – Leila de Melo

1- O potiguar Felipe Bezerra conquistou o bicampeonato mundial de jiu-jitsu em duas categorias, na…

15 horas ago

This website uses cookies.