AMBIDESTRIA – Roberto Goyano

AMBIDESTRIA –

Pelo mundo afora e, especialmente no Brasil, vemos uma polarização muito grande em torno do conceito esquerda e direita.

Este conceito remonta à revolução francesa (1789-1815) e foi evoluindo até os dias de hoje.

Essa evolução, em seus extremos, tem produzido discussões acaloradas e posições intransponíveis em assuntos relevantes no cotidiano político, em todas as suas esferas.

A radicalização ideológica, tanto para um lado quanto para o outro, acaba por não permitir a análise de propostas importantes e viáveis simplesmente pelo fato de ter sido proposta pelo lado contrário, levando a decisões nem sempre eficazes.

Pois bem: farei um breve paralelo trazendo fatos para análise, guardando as proporções e distinções devidas.

Neurocientistas, há muito tempo, pesquisam o cérebro e seus segredos e mistérios, um deles é sobre a troca de informações entre os lados cerebrais.

Num cérebro normal há uma ponte de fibras nervosas chamada corpo caloso, que conectam os dois hemisférios cerebrais. Teoricamente, pessoas que, por má formação cerebral, podem nascer sem, ou com má formação desse importante feixe de fibras nervosas, teriam dificuldades no aprendizado e memória por conta de estarem em lados opostos porém, muitos cérebros constroem um caminho mais longo para essa conexão, um fato verificado pelos médicos Fernanda Toval-Mor e Roberto Lent (IDOr e UFRJ) em pesquisa publicada na revista PNAS da Academia de Ciências dos Estados Unidos.

Nos meus primórdios do antigo curso primário, ouvi muitas vezes colegas, canhotos, serem repreendidos pela professora por utilizar a mão ¨errada¨ no aprendizado da escrita produzindo, quando forçado à usar a outra mão, verdadeiros hieróglifos ao invés de nosso alfabeto normal.

Isso causava certa agitação na classe e, como defesa éramos desafiados, nós destros, pelo colega a escrevermos com a outra mão e o resultado era muito semelhante ao produzido por ele, quando forçado a virar destro.

Alguns se saiam muito bem, eram os famosos ambidestros. Minoria sempre.

Quero chamar a atenção para o fato que cada lado, direto ou esquerdo, tem suas especificidades que são relevantes e devem ser levadas em conta. No caso do cérebro é indispensável a comunicação entre um e outro lado.

Na situação de canhoto ou destro, atividades que requeiram movimentos mais precisos, cada qual o faz com seu lado mais treinado para isto.

Trazendo agora para o contexto de política, seria muito interessante que tivéssemos além de um corpo caloso, a ambidestria, conceito já existente em grandes corporações.

Ambidestria pode ser aprendida, é um esforço grande porém, acredito eu, pode gerar resultados muito mais eficazes e duradouros do que o simples isolamento dos lados.

 

 

 

 

 

Roberto Goyano – Engenheiro

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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