A solidão tem sido a fera voraz a espreitar o homem contemporâneo, que, mesmo cercado de uma multidão, se sente cada vez mais sozinho e isolado…
O egoísmo, o narcisismo, a inveja, o individualismo e a egolatria fazem de certos indivíduos espantalhos humanos, os quais, mesmo frequentando clubes, templos e partidos políticos, continuam prisioneiros de si mesmos, pelo simples fato de buscarem receber sempre e nada retribuírem.
Alguns, lamentam: “não existe amigo”. Porque, no seu egocentrismo, esquecem que o único método de ter um amigo leal é ser um. Como São Francisco de Assis, é dando que se recebe. Doando-se com humildade e simplicidade, sem esperar nada, é que se recebe a dádiva do sentimento do querer bem sincero e até incondicional.
A Bíblia preconiza “ter um amigo é possuir um tesouro” e o dito popular ensina: “mais vale amigo na praça que dinheiro no caixa…”.
Ainda, o populacho assevera: “quem planta colhe”, significando que o solidário colhe solidariedade, especialmente quando faz sem esperar retribuição.
Jesus, o salvador-filósofo-avatar-guru-iniciado-mestre-Deus/Homem, recomendava que não haveria salvação, santidade ou nirvana sem amarmos os seres humanos como a nós mesmos. Aliás, somos partículas que se completam quando integradas a outras partículas semelhantes e ao Todo, Cosmo, Inteligência Suprema, Grande Arquiteto ou Deus.
Entendo, inclusive com apoio científico e metafísico, que o egoísta, invejoso e odiento é autofágico, sofre mais com a felicidade alheia que com a sua própria dor, fogo que se autoconsome, vítima do efeito bumerangue, da lei do retorno e subproduto ou cinza de sua própria fogueira.
Por tudo isso, concluo que a amizade é a mão estendida sem perguntas; é crença e confiança na palavra e nos atos do outro, sem julgamentos precipitados e injustos.
Nas agruras do universo, os viajores errantes tornam menos penosa a caminhada quando encontram almas irmãs, assim como “aves da mesma espécie que sempre voam juntas…”, independentemente de sexo, raça, idade ou condição social ou intelectual.
O bom caráter censura o amigo reservadamente, enquanto, em público, rasga elogios às suas qualidades… Nesse sentido, São Tomás de Aquino prelecionava: “o bom amigo os meus defeitos aponta para que eu os corrija; o falso amigo exalta-me indevidamente para que persista no erro e caia no lodaçal da vaidade.”
Ser bom amigo não precisa dar a vida pelo outro, mas basta estender a mão ao companheiro que resvala no abismo ou simplesmente com ele compartilha, sem competir, com desinteresse e alegria de suas vitórias e ascensões.
O lamentável é que muitos preferem a destruição pelo elogio fácil do que receberem críticas salvadoras e construtivas.
Miguel de Cervantes afirmava que “é melhor perder todos os bens materiais que um amigo”. Tudo, contudo, depende do dom sagrado do perdão e da tolerância com as diferenças…
Ademais, se a gratidão é a memória do coração, ao ingrato compete sepultá-la, já que para este tipo tudo é descartável e transitório, inclusive a amizade.
Afinal, amigo é uma escolha personalíssima, meditada, inteligente, enquanto a família é uma imposição do destino, da sorte, de forças alheias à nossa vontade.
Pessoa grata e sensível, gosta pela simples razão de aglutinar, de servir, de somar e convergir, mesmo sem necessidade de ninguém para o seus fins pessoais. Nesse diapasão, entendo como Confúcio que “a melhor maneira de ser feliz é contribuir com a felicidade dos outros”.
Ainda, faço minhas as palavras do inexcedível Ministro e Escritor José Américo de Almeida, que prelecionava: “com glórias, riquezas e sucessos todos se manifestam como amigos porque, ocultando a mesquinharia da inveja, prostram-se ao poder. No entanto, o amigo verdadeiro se revela na tristeza, desacertos e pobreza”.
Este é o caminho indeclinável da amizade pura e sincera, cuja conquista jamais pertencerá aos ressentidos, magoados e egocêntricos, que jamais “amarão o próximo como a si mesmo”.
Nesse ritmo, é que perguntaram certa vez a Epitácio Pessoa, único brasileiro que presidiu os três poderes da Nação (Presidente da República, Presidente do Congresso Nacional e Presidente do Supremo Tribunal Federal), qual o segredo do seu imenso sucesso, e ele respondeu que “tudo se devia a 50% de incansáveis dias e noites de estudo e trabalho e 50% a generosidade de amigos verdadeiros”.
Em síntese, faço minhas as palavras do inefável Benjamim Franklin: “um irmão pode não ser um amigo, mas um amigo será sempre um irmão”.
Amigo, porquanto, para quem primeiro sabe sê-lo, existe, sim senhor.