AMOR E DOR –
Enquanto dirigia meu carro, escutava um CD com músicas de MPB, de uma faixa para outra, quando começou a tocar Djavan. A música tinha uma participação especial de Alcione, cantando Doce Veneno. Quando cantarolava, junto com Djavan e Alcione, a estrofe que diz:
Este amor me envenena
Mas todo amor sempre vale a pena
Desfalecer de prazer, morrer de dor
Tanto faz, eu quero é mais amor…
Pensei: quero isso, quero amar, me apaixonar muitas vezes. Quero sofrer de amor, quero chorar, sentir saudades, segurar o coração para que ele não saia pela boca, sentindo doer, se encolher e, de tão apertado, sangrar de amor.
Quero amar, só para depois ter o que relembrar, ter em quem pensar, para fazer destas lembranças minha companhia nas horas de solidão. Quero lembrar aquele encontro delicioso – dos corpos exaustos de tanto amar –, em casa deitada na rede armada na varanda.
Essas lembranças têm um sabor duplicado, talvez porque, além de termos vivido, ainda continuamos sentindo as sensações da paixão através dos frissons que o corpo emite quando o pensamento flui.
Penso que o amor só pode ser completo quando nos permitimos a plenitude de todos os sentimentos bons e ruins. Viver intensamente o amar e o sofrer por amar – quando há o rompimento dos corpos, há também a continuidade do amor por outros sentimentos.
Viver morrendo de amor é seguir amando no seu segundo momento. Assim, o amor só estará completo quando as necessidades, carnal e espiritual, forem satisfeitas pelo prazer e pela dor.
A dor do amor é tão necessária quanto o prazer de amar, tornando-se ambas indissociáveis.
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora