AMOR SÓ PRESTA CORRESPONDIDO –
Seguimos numa conversa animada dentro do carro. Flávio sentado no banco do carona e eu dirigindo. Ele odeia dirigir. Eu amo. Ele ama avião. Eu odeio. São aquelas diferenças que aprendemos a conviver e a desfrutar delas da melhor forma possível. Nos completamos…
Meu celular está conectado ao Bluetooth. Assim, são minhas músicas que tocam neste momento. Quando os filhos estão no carro eles têm prioridade musical. Desta forma, aprendo a ouvir coisas novas. Entre uma playlist de pagode e outra de funk do futuro (sim, isso existe!), descubro que prefiro mesmo continuar ouvindo Marisa Monte e Beatles… Mesmo que eles me digam que ouço as mesmas músicas desde que nasci. Mesmo sabendo que eles não estão de todo errados.
Passamos em frente ao Arena das Dunas e vemos uma multidão vermelha. Dia de jogo do América. Por muito tempo vi Flávio, às vezes acompanhado por meu pai, indo aos jogos no Machadão. Em um país que não se respeita as diferenças – sejam elas de cores, partidos políticos, religiões ou crenças -, eles nunca iam com camisas do time que torciam. Uma lástima isso…
Vendo aquela alegria toda, aquele grupo grande chegando ao estádio, pergunto se não sente falta das suas idas ao campo. De prontidão ele me responde que não.
Pergunto, rindo, se ele não ama seu time. Ele, rindo mais ainda, me diz:
– Amor só presta quando é correspondido.
O silêncio toma conta do nosso carrinho até explodirmos em gargalhadas.
– Caramba, Flavinho, que verdade! Isto serve para tudo.
– Até para os times!
– Até para os times!
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora