AMPUTAÇÕES ESPIRITUAIS –
“E, se tua mão te escandalizar, corta-a… E, se o teu pé te escandalizar, corta-o… E, se o teu olho te escandalizar, lança-o para fora…”
(Relato de Cristo no Evangelho de Marcos)
As expressões acima, dos lábios de Jesus Cristo, registrado no Evangelho de Marcos, traz a ideia de amputação. Essa história de cortar a mão, cortar o pé, arrancar um olho soa estranho e traz a realidade falsa de que o Cristianismo exige castração. Pergunta-se: como o mundo moderno encara essas frases de amputação usadas por Jesus?
I – A RELATIVIZAÇÃO DOS COSTUMES E DA MORAL.
Vivemos num mundo onde não há absolutos morais, tudo é relativo, onde a lei é vontade, onde você faz tudo o que deseja fazer, o único “absoluto” é a “relativização” dos desejos.
A palavra de ordem é: se quer fazer, faça. Seja autêntico. Autentique-se em atos de vontade. Essa é a única lei. A única coisa que impede isso são as impossibilidades. Se o indivíduo tem vontade de fazer e não como fazer, esse é o único absoluto que o impede. No mais, tudo pode.
Quer ser homossexual, seja. Se você se autentica melhor numa relação lésbica, faça isso. Se você é pseudo feliz indo toda noite a um motel, vá. Se você resolve fazer negócios ilícitos, consegue isso sem ser apanhado, e há uma esperteza inerente a tudo que você faz, faça. Então, é só fazer. Esse é o mundo no qual vivemos. Essas são as leis que nos regem.
Os sociólogos modernos falam em média sociológica, ou seja, eles tentam captar o que uma comunidade em geral pensa, e depois de chegarem às suas conclusões, estabelecem a média dos pensamentos como ética comportamental daquela sociedade.
Ora, num mundo como esse, a leitura do ensino de Cristo – “se alguma coisa te faz tropeçar, arranca o olho, corta uma mão, amputa uma perna” – só pode parecer terrível. Essa linha de pensamento leva a algumas interpretações:
REDUCIONISMO E CASTRAÇÃO. A ideia de que o Cristo é “NÃO PODE”, “NÃO PODE”, “NÃO PODE”. Mas, positivamente, o que Jesus diz é que se pode NÃO PEGAR ALGUMA COISA, pode não andar em certos caminhos e pode NÃO ENXERGAR DETERMINADAS COISAS.
PARA ENTRAR NO REINO DE DEUS A CONDIÇÃO PRINCIPAL É A AMPUTAÇÃO EXISTENCIAL.
II – A IDEIA DE QUE A RECOMENDAÇÃO DE JESUS CRISTO É PSICOPATOLÓGICA.
Um psicólogo que não conheça os ensinos de Cristo, ao ler essas palavras vai logo pensar que o estado de vida para o qual Jesus nos convida a viver é doentio, patológico, enferma a mente, é repressor, é uma camisa de força, uma coisa horrível, uma amputação, um cárcere, um caramujo psicológico.
Jesus ensina que o cristão deve agir mais e ver mais do que qualquer pessoa. Mas, o que Ele está querendo dizer com essas figuras fortes: TUDO QUANTO FAZ TROPEÇAR, OU LEVA A FAZER OUTRAS PESSOAS TROPEÇAREM, DEVE SER EXTIRPADO DA VIDA.
Essas situações de amputações não são autoflagelo, muito comum na Idade Média. Não é cortar mão, pé, olhos, no sentido literal. Não é penitência, tipo subir escadas de joelho, não é morte das potencialidades humanas; não ensina a inércia e o escapismo, nem reduz a capacidade de fazer, de andar, de ver, não aliena ninguém.
III – O VERDADEIRO ENSINO E SIGNIFICADO DAS AMPUTAÇÕES ESPIRITUAIS.
- NAS AÇÕES – Por isso mandar cortar a mão. Aqui são os gestos, os nossos repentes, a nossa falta de domínio próprio no temperamento, as ações perigosas, que pode nos fazer tropeçar, ou fazer alguém tropeçar.
- NOSSO COMPORTAMENTO – Quando fala de pés, trazendo a ideia de caminhar, das atitudes, dos relacionamentos, dos negócios, das coisas que fazemos e que podem trazer um prejuízo para nós mesmos e para outros.
- NOSSOS OLHOS – Refere-se às ambições das coisas que vemos, das coisas que desejamos, das coisas que cobiçamos, e que esta cobiça pode nos destruir e destruir outras pessoas.
- Esta autolimitação não é patológica, mas produtiva e criadora.
CONCLUSÃO.
É impressionante observar que quem se autolimita continua inteiro. Ele diz algo estranho, quase paradoxal: “E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a…”
Existe aí, uma grande diferença entre a “Tua mão” e o “Tu”. O TU continua inteiro. O TU, o TEU EGO, a TUA PESSOA, continuam inteiros, apesar da falta da tua mão. Os homens, as pessoas, continuam plenas, íntegras. Algumas coisas é que são tiradas, mas nele, no eu, no ego, e na personalidade, nada é tocado.
Cristo fala é da vida. De que essa autolimitação gera vida, a verdadeira vida, a vida abundante. E quem não se limita, conforme Ele manda, vai direto para a perdição eterna.
A responsabilidade é pessoal. Essas amputações são de responsabilidade da pessoa. Ele diz: “Se a tua mão te fizer tropeçar, corta-a”. Ele não diz: “põe aqui que eu corto”. Ele diz: “Corta você!”. “Se o teu olho te faz tropeçar…” ele não diz, leva ao teu amigo para ele arrancar. Ele diz “Arranque-o você!”.
A decisão é pessoal e intransferível. É autocirurgia, é auto amputação. Tem a ver com vontade e decisão. Quem as faz, não se reduz, só cresce, expande-se, torna-se mais pleno, mais realizado e mais completo.
Josoniel Fonsêca – Advogado, professor, membro da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte, ALEJURN, [email protected]