ANÁLISE:”ESTOPINS” ACESOS NA AMÉRICA LATINA –
Chile, Equador, Bolívia, Colômbia, Cuba, Venezuela, Argentina são países latino-americanos, com governos de direita, esquerda, comunistas, socialistas, conservadores, neoliberais. Todos fracassaram na solução dos problemas internos e enfrentam graves crises. Resumo da ópera: nos últimos anos, nenhum deles evitou a explosão social.
Deixar de priorizar as “questões sociais”, simultaneamente às intervenções na economia, não foi equívoco apenas da direita, com os monetaristas conservadores. A esquerda cometeu o mesmo pecado na Venezuela, Argentina, Bolívia, Cuba e Equador, ao confundir o “social” com o “populismo demagógico” e o gigantismo estatal.
No início do século XXI, os países latino-americanos cresceram, mas não fizeram o “dever de casa”, através de investimentos na educação e tecnologia, a exemplo dos asiáticos.
No período, ocorreu o “boom das commodities”, quando subiram os preços de produtos exportáveis, graças à demanda crescente de economias emergentes como a China e a Índia. Surfando no “boom” das commodities agrícolas e o petróleo, líderes populistas de esquerda mantiveram-se no poder e adotaram o nacionalismo patológico, personalista e visível desapreço pela democracia. Esse super ciclo esgotou-se.
De repente, o “boom” declinou e os raivosos governos de esquerda e direita, alimentaram polarizações político-ideológicas e deixaram de diagnosticar as verdadeiras causas das crises, sendo jogados no “fundo do poço”.
Estudos à época, do Banco Mundial e das Nações Unidas, diagnosticaram os elevados níveis de concentração de renda, como origem das tensões sociais.
A América Latina confirmou que o crescimento econômico por si só não elimina a pobreza.
No período entre 1950 e a década de 90, o PIB latino-americano cresceu aproximadamente 80%. Entretanto, os níveis de pobreza diminuíram menos de 10%. As consequências são os protestos atuais.
A situação do Chile é emblemática. Era um país citado como exemplo, por ter seguido, a partir da ditadura de Pinochet, o receituário do chamado Consenso de Washington (1989), que implantou a redução drástica do Estado, privatizações e economia de mercado, sem regulações.
A economia chilena tornou-se robusta, porém não evitou, que milhões de pessoas, de todas as correntes político-ideológicas, clamem por mudanças de inclusão social. A Argentina e Equador não ficam atrás. Bolívia, Cuba e Venezuela são evidencias do fracasso estatizante.
No caso argentino, a eleição de Macri prenunciava novo ciclo de abertura econômica, com ampla, total e irrestrita prioridade ao mercado. Tal não ocorreu e o jovem empresário amargou insucesso e derrota eleitoral.
Em boa posição econômica, porém com amálgama de reivindicações sociais, a Colômbia também está nas ruas, em protesto. A solução do conflito social não será apenas a oferta de empregos e investimentos, mas a melhoria das condições de trabalho, aposentadorias equitativas para superar o fosso escandaloso de desigualdade no país, visando garantir a sobrevivência dos pobres e classe média.
Nesse contexto, o México surge como exceção.
Embora governado por um filiado do Partido Comunista, o presidente López Obrador, conseguiu incluir “amarras sociais” na celebração do novo tratado de livre comércio com os Estados Unidos e o Canadá. Assim concordou em ressuscitar o NAFTA, anteriormente demonizado pela esquerda radical. Abriu para os mexicanos, a possibilidade de atrelamento às fortes economias americana e canadense e consolida canal de diálogo com a China.
Na América Latina, o cenário mostra “estopins sociais” acesos.
Alguns explodiram. Outros ameaçam. O caminho certamente não será a busca do tal “centro político”, que sempre envolve distorções de oportunismo. A alternativa converge para o “bom senso” e a identificação de verdadeiros líderes, que extraiam das “ideias” e “propostas” em debate, sem preconceitos, o que elas poderão contribuir na superação da pobreza, a partir da desconcentração da renda.
O consenso nasceria em torno de objetivos, como o aumento da renda familiar; criação de trabalho e emprego, oportunidades de mobilidade social vertical; melhoria e universalização da cobertura da previdência social; crescimento da renda pública, especialmente evitando a evasão, fraude e exigência na liberação dos “incentivos fiscais” de prestação de contas periódica dos resultados sociais alcançados.
Assim agindo, a América Latina afastaria o estigma de que, “além de crescer pouco, reparte mal os seus benefícios”.