ANJO MAGNÍFICO DAS SELVAS BRASILEIRAS: O TIÊ-TINGA! –
“Quando o tiê canta outros passarinhos ficam mudos!”, Nara Leão.
O pássaro tiê-tinga é considerado a ave espetáculo das florestas, para ribeirinhos da selva amazônica o chamam de pintassilgo-da-mata-virgem, mas há outros renomes. Impressiona a quem o vê mais pelo porte do que pelo canto arrastado e polifônico, demorado, causa impressão quando balança o longo rabo como se estivesse regendo a sinfonia. Na fauna é o tiê-tinga, é aparentado ao saí-de-sete-cores e ao cardeal-da-Amazônia, mas sua espécie se destaca por exibirem características únicas.
A íris dos olhos do tiê-tinga predomina o dourado que chama a atenção e a admiração além da postura elegante desta ave brasileira. Quando trecho de floresta é devastado o tiê-tinga simplesmente desaparece dali, para reaparecer por vezes em outro estado. Assim de relatos de biólogos e pesquisadores que acompanham esses monumentos da natureza, instrumentalizados por anilhas e arruelas de marcação de fauna. O tropo tinga em tupi refere-se à tez branca. Nas selvas maranhenses é o cancã-pipira ou nas matas de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte é o ‘pêga; em São Paulo, pelas bordas da Mata Atlântica, é o sábia-tinga.
São vistos nesses recantos de mata em pequenos grupos, o macho, que é maior que a fêmea, assoma o galho parecendo se mostrar para ser contemplado como líder do bando, aparecem entre 6 a 8 numa forma de lidar com predadores, resistentes, eles ainda estão por aí até hoje. Após um tempo em determinado ponto escondidos na mata, eles reaparecem para alegrar, aí é uma algazarra só, notadamente quando encontram árvores frutíferas de que gostam e se abastecem.
Primeiros relatos de admiração do tiê-tinga aconteceram nas florestas do Território de Guaporé, atual Rondônia. Houve registros na histórica construção da ferrovia da selva Madeira-Mamoré, a chamada ferrovia da morte, que riscou temerosa pelas matas de Rondônia, uma exigência do Tratado de Petrópolis. No início da primavera de 1873, a selva exalava forte perfume com a chegada das primeiras flores, milhares de trabalhadores braçais para lá atraídos, destes muitos morreram de malária, jazeram na floresta, jamais voltaram para suas famílias. Para compensar o banzo, surgiam os tiê-tingas ou cancãs nos fim de tarde, vinham amenizar o sofrimento daqueles trabalhadores no fim de cada jornada extenuante na selva. Mas a ferrovia é outra história brasileira que ficou na densa memória nacional.
Nas matas cerradas os tiês-tinga contribuem no aspergir de sementes, notadamente de frutas, bananeiras, laranjeiras, mamoeiros da selva que devem muito de suas existências a esses espécimens agitados e notáveis da natureza.
Luis Serra – Professor e escritor
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