ANTIGOS CARNAVAIS –
Sem dúvida nenhuma os antigos carnavais eram diferentes nos carnavais atuais. Havia carnaval nas ruas, avenidas e nos clubes. Hoje aqui em Natal, pouco se houve falar, e pouco se tem para oferecer. Carnaval nos clubes não existe nas ruas poucos heróicos cidadãos procuram revitalizar. mas…
Os blocos formados de jovens desfilavam pelas ruas, em cima de alegorias construídas nas carrocerias de caminhões ou em carrocerias puxadas por tratores agrícolas, visitavam residências familiares previamente avisadas. Estas visitas tinham o nome de assaltos, onde o dono da casa recebia os blocos que por lá cantavam e dançavam as belas músicas carnavalescas de letras memoráveis, lembradas até hoje. Nestas ocasiões eram oferecidas comidas e bebidas a vontade.
Algumas musicas ficaram em minha memória. “Zé Corneteiro, casado com um peixão, levou sua mulher, pra mostrar ao batalhão, no outro dia, por ordem do major, o Zé foi promovido, Corneteiro Mor.” Vejam que corno naquela época era uma raridade, tão raro que era cantado. Hoje tem mais corno por esses “Brasis” do que alistados no Bolsa Família. “Olha a Cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é? Será que ele é bossa nova, será que ele é Maomé, será que ele é transviado? Mas isto eu não sei se ele é?” Reparem que ser “bicha” era também uma “fruta” rara, cantada em versos e prosas, hoje? Deixa pra lá. Mas a música que me lembro mais neste momento, que para mim abria o baile de máscara, é Máscara Negra, que tem uma parte que diz: “Na mesma mascara negra, que esconde o teu rosto, eu quero matar a saudade, vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval.” E haja carnaval, e os casais se beijavam ou se abraçavam, era diferente. Quantos namoros começavam no carnaval e terminavam na quarta feira.
Mas, voltemos aos antigos carnavais. Tinha o corso. Uma área de rua ou ruas previamente estabelecida, isolada, com policiais – que beleza, tinha policia nas ruas. Eu me lembro bem do corso na Avenida Deodoro. Certa vez, em um destes carnavais Chico Araújo, conhecido como Chico Bola Preta, meu colega e amigo, aprontou uma com Ivan da Confeitaria Atheneu. Estávamos na Confeitaria e Ivan queria ir com a sua família para o corso na Avenida Deodoro. “Expulsou” todos nós e fechou o seu estabelecimento. Era época da repressão. Antes de Ivan sair, Chico tinha um batom vermelho e escreveu com letras garrafais na lateral da Kombi – Abaixo a ditadura. Ivan e o resto da família não viram, pois a porta do motorista emperrou e todos só entravam pelo lado dos passageiros. Resultado, quando Ivan passou a patrulha policial prendeu o pobre, e foi uma confusão daquelas, mas ele era muito conhecido, explicou a “autoridade competente” e essa mandou soltar Ivan.
Outra música antiga, mas que está muito atual, e deve ser cantada por políticos é: “Ei você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí.” Esta é muito real, pois quem conhece a musica que fala em dinheiro e grande confusão, está vendo a grande confusão que está dando, “o mar está mais para baiacu de que para sereia.”
É como ninguém é de ferro – fora o homem, eu ainda canto “Eu queria ser uma abelha pra pousar na sua flor, haja amor, haja amor.” É melhor sonhar do que cantar haja roubo, haja corrupção, haja canalhice. Eu vou para Cotovelo, pois lá fico longe dos “Zés” da vida. Lá escuto o profeta Pijuriu, tenho um bom papo com Marco Emereciano, Rui Câmara, Nascimento, Múcio Nobre, Otávio Lamartine e outros, com boas bebidas e bons tira gosto – ou é bota gosto? A casa de Dona Alzira que para disfarçar ela diz também ser minha, estar à disposição dos amigos. Mas com uma condição: avisem antes de chegar, ok?
Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN