ANTONIO FLORÊNCIO, O EMPREENDEDOR –
No final dos anos 1950, quando eu era funcionário do Banco do Nordeste em Mossoró, a S/A Mercantil Tertuliano Fernandes apresentou um pedido de financiamento para um projeto de extração de óleo de algodão, com a utilização de solvente químico. Fausto Pontes, o gerente da agência e figura de inteligência ímpar, tinha em mãos dois problemas: o valor excedia em muito seu limite de decisão (na época foi o segundo maior já pleiteado junto ao banco) e exigia um projeto técnico e outro econômico. Antonio Florêncio de Queiroz, já na época o principal dirigente da empresa, tinha o projeto técnico pronto, porém o projeto econômico teria que ser elaborado; para o que fui convocado a trabalhar junto com Fausto.
Não foi fácil. Passamos cerca de três meses envolvidos quase que exclusivamente na sua formatação, mas constantemente precisávamos de informações da S/A Mercantil. O estudo envolvia operações de compra, descaroçamento e beneficiamento de algodão e seus produtos e subprodutos: algodão em pluma, linter, borra de linter (hull fiber), torta magra, casca e borra de óleo; extração de óleo vegetal bruto, semi-refinado e refinado, destacando-se o óleo comestível, (que mais tarde adotou a marca Pleno), bem como o mercado comprador. Para todas as indagações Florêncio tinha dados coletados e elementos que os comprovavam. Desse convívio, nasceu a minha aproximação com ele. Posteriormente, o projeto foi aprovado pela diretoria do BNB, resultando na criação de duas subsidiárias: a Usina São Vicente S/A e a Fábrica Raimundo Fernandes S/A.
Com a visão de Florêncio e de Valdemar Fernandes Maia (presidente) o Grupo SAMTEF se tornou o maior conglomerado empresarial do Rio Grande do Norte de então, atuando principalmente nos setores algodoeiro e salineiro. Nesse último, através de sociedades controladas ou associadas: SOSAL-S/A Salineira do Nordeste, Salinas Guanabara S/A e SALMAC-Salicultores de Mossoró Macau Ltda. A unidade produtora da SOSAL ocupava uma área de 26 milhões de metros quadrados, com uma zona de cristalização de 200 mil metros quadrados, onde, no final dos anos 1960, eram produzidas 400 mil toneladas de sal. A Guanabara foi a primeira salina brasileira integralmente planificada e totalmente mecanizada. Ocupava uma área de 10.000.560 metros quadrados. A SALMAC, embora produtora, centrava suas atividades no refino e distribuição do sal do grupo nos mercados consumidores. No porto de Santos-SP, possuía instalações de desembarque, com capacidade de 300 toneladas por hora e, ainda, um depósito com capacidade de armazenamento para 25 mil toneladas de sal.
A atuação de Antonio Florêncio de Queiroz foi além da área empresarial. Foi verdadeiramente o pai do Porto-Ilha de Areia Branca, batalha ganha depois de vencer muitas lutas. Quando tentou o apoio dos políticos para a causa, segundo suas palavras, “nenhum quis, naquela fase da luta, participar do nosso esforço, pois todos temiam desagradar uma área ou outra”. Tomou a iniciativa de ingressar na política. Foi eleito deputado federal quatro vezes, exercendo mandatos de 1971 a 1987. Em 1986 foi candidato a vice-governador, compondo capa com João Faustino. Durante o governo de Cortez Pereira foi e levou técnicos ao Japão e às Filipinas, em busca do know-how que fez o RN se transformar em importante produtor de camarão.
Era bacharel em Ciências Contábeis, pela Academia de Comércio do Rio de Janeiro (1952) e em Ciências Econômicas, pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro (1956), foi diretor-presidente da Indústria Química Alcanorte e integrante do corpo dirigente da Confederação Nacional da Indústria.
Sua primeira profissão foi auxiliar de pedreiro, ainda quando criança, em Pau dos Ferros. Depois foi office boy nos escritórios da SAMTEF de Mossoró e do Rio de Janeiro, depois diretor do grupo empresarial. Hoje é nome de rua em Natal (Rota do Sol), Mossoró, Pau dos Ferros, Areia Branca-RN e Teresópolis-RJ; de escolas nas cidades de Espírito Santo e Macau (Sesi)-RN, e das bandas de música de Pau dos Ferros e Rafael Fernandes-RN.
Tribuna do Norte. Natal, 21 nov. 2019.
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia com extensão em sociologia. Do Instituto Histórico e Geográfico do RN
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