AO SOM DESSE BOLERO –
Besame mucho, que tiengo miedo perderte… outra vez
Uma letra que contém a síntese dos temas de um bolero. Romance, amor e paixão permeiam inesquecíveis canções com que autores consagrados e cantores maravilhosos ainda hoje fazem a delícia dos amantes do gênero.
O bolero surgiu em Cuba, filho de uma rumba em ritmo mais lento, mas bebeu em outras fontes e raízes espanholas e hispano-americanas. Essa mescla, entretanto, não o livrou de tornar-se conhecido como canção romântica mexicana. E o motivo talvez seja este: a maioria dos seus compositores, autores e cantores são mexicanos.
No panteão dos mais consagrados criadores no México figuram nomes como o do prolífico Agustin Lara, autor de “Solamente una Vez”; Álvaro Carrillo, “Sabor a Mi”; Roberto Cantoral, “El Reloj” e “La Barca”; Alberto Dominguez, “Frenesi”; Armando Manzanero, “Contigo Aprendi” e “Esta Tarde vi Llover”. Um cubano, Oswaldo Farrès, completa a relação com as músicas “Quizás, Quizás, Quizás”, “Tres Palabras” e “Acercate Más”. Um rol de autores que não pode omitir o nome de pelo menos uma mulher. Consuelo Velazquez entrou para a história do bolero ao compor uma das mais populares e executadas canções em todo o mundo. “Besame Mucho” é presença obrigatória em qualquer audição musical que faça referência ao gênero.
Os apreciadores irão concordar que poucos cantores poderiam superar a interpretação de vozes como Gregório Barrios, um ator espanhol cuja voz marcante herdara o timbre e a entrega musical, que já foram marcas de artistas como o Doutor Alfonso Ortiz Tirado, um médico mexicano que, mesmo exercendo outra profissão, jamais deixou de atuar na música, chegando a ostentar o título de “Cantor das Américas”. Esse apelido ele dividiu com outra grande voz, Juan Daniel, hispano-brasileiro, que no final da carreira foi ator de cinema e televisão, certamente levado pelo seu filho, o diretor e produtor Daniel Filho. Um mexicano, Pedro Vargas, encantou o mundo com a potente voz. Andou, como tantos outros, muito tempo pelo Brasil. Era também ator. Lucho Gatica, um chileno, e o sempre lembrado e imitado Bienvenido Granda, “el bigode que canta”, um cubano com muitas histórias e – dizem – muitos amores.
As mulheres, como sempre, nunca decepcionaram e tiveram vigorosa presença no cenário musical do bolero. Uma pequena relação inclui cinco mexicanas e uma norte-americana, todas com passagens importantes e registros marcantes de suas vozes especiais. Elvira Rios, Consuelo Vidal, Chelo Flores, Libertad Lamarque, que é considerada a primeira mulher a cantar e gravar um tango, e Toña La Negra, uma mexicana meio africana (daí o apelido). Nascida nos Estados Unidos, Eydie Gormè (Edith Gormezano), cantora de jazz e pop, apaixonada pelo bolero, nos anos 60 dedicou-se ao gênero e gravou inúmeras canções, principalmente junto com o Trio Los Panchos.
E por falar em trios, será impossível esquecer a contribuição que esses conjuntos deram para a divulgação do bolero. No México – para variar – surgiram os mais famosos e emblemáticos. Trio Los Panchos, Los Tres Reyes e Los Tres Diamantes bem que poderiam, juntos, formar o “Los Nueve”, tal a similitude e a uniforme elegância com que interpretavam (e ainda interpretam) as maiores obras, os maiores clássicos. Em Natal, nasceu o Trio Irakitan, orgulho potiguar, com brilho nacional e internacional. Outros desses conjuntos foram criados aqui e eram atrações presentes em qualquer programa nos anos 1950, 1960, cantando versões em português dos boleros mais famosos. Alguns, remanescentes daqueles grupos pioneiros, sobrevivem e cantam até hoje.
O Brasil sempre foi um país amante do bolero. Aqui se canta e se reverencia a música como poucos e nosso país produziu também os seus intérpretes e autores. Como exemplo, podemos citar dois compositores de peso. Gonzaguinha, com uma linda canção, “Começaria Tudo Outra Vez”, fez explícita homenagem ao bolero. João Bosco nos brindou com o maravilhoso “Dois-pra-lá, Dois-pra-cá”, título que é uma referência à marcação do ritmo. Waldick Soriano, cantor e compositor, representa a vertente mais popular dos nossos boleros. Todos abertos ao mesmo espírito, ao mesmo encantamento, cantando histórias de romances, amores e paixões, como escreveu e compôs Lalo Guerrero:
“… mirame, mienteme, pegame,
matame, se quieres, pero non me dejes,
non, no me dejes, nunca, jamás…”
Alberto da Hora – escritor, músico, cantor e regente de corais
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Excellent matéria sobre o bolero, sou filho do Tony do Trio Irakitan, inclusive o último remanescente do grupo, meu pai tinha um Trio antes de ser convidado a substituir o Edinho em 1966, se chamava Trio Guarani, viajaram toda a América e excursionaram pela Europa e União Soviética aonde tocaram em mais de 17 cidades incluindo Moscow e Kiev (na época ainda parte Rússia), meu pai conheceu e conviveu com Gilberto Puente e outros grandes mestres do bolero no México aonde viveu por anos. Enfim obrigado pela matéria!