AOS POBRES… O MELHOR! –
Na mente do brasileiro em geral, e dos políticos e gestores estatais em particular, é convencionado que aos pobres deve ser reservado o pior, o de terceira classe, o de quinta categoria. Quando falo em pobres me refiro àquelas pessoas sem condições materiais de prover a própria existência, moradoras de favelas, palafitas, normalmente necessitadas do poder público para a sua subsistência. Geralmente, no entorno de tais criaturas, as estradas e vias de acesso são as piores possíveis; o esgoto – na maioria dos casos, sempre a céu aberto – exala as piores fedentinas; os prédios públicos sempre caindo aos pedaços; os prédios particulares (empresas, postos de gasolina, farmácias e supermercados, etc, etc) seguindo o mesmo padrão; a prestação dos serviços ofertados primando pelo pior – tanto na qualidade dos produtos como na de serviços, sem se falar em segurança, saúde e educação… De arrepiar!
Para os doutos, tal visão dos gestores procede dos tempos medievais, dos senhores feudais, quando aos pobres eram negados os direitos mais comezinhos, embora, pesquisando a natureza da história humana, sejamos obrigados a concluir que em qualquer tempo, e em qualquer lugar, o pobre sempre foi espezinhado, maltratado, espoliado, explorado, sendo obrigado, em célebres episódios, a empunhar a espada para fazer prevalecer seus direitos. E, paralelo à supressão histórica de direitos, seu habitat sempre foi tratado de forma marginal, relegado a um status de abandono e de penúria. Quem desconhece a situação vexatória e humilhante dos pobres de Paris, de Londres, de Moscou, de Lisboa séculos atrás? E a situação dos imigrantes de hoje? Em função de tal realidade, muitos estudiosos creditam a esse tratamento os atuais níveis de violência urbana que estragam as estatísticas de inúmeras metrópoles mundo a fora.
De repente, para espanto e encantamento de inúmeros órgãos internacionais, duas cidades da América Latina, Bogotá e Medellín, tidas até recentemente como os dois piores lugares do mundo para se morar, despontam como as campeãs de enfrentamento à violência urbana e ao crime organizado adotando simplesmente o conceito de igualdade na aplicação de verbas, do rigor na qualidade das construções físicas e na qualidade dos serviços ofertados. É o conceito de “aos pobres o melhor”. Nelas, a seriedade a essa visão foi elevada a tal ponto que favelas foram dotadas de escadas rolantes, bibliotecas de primeiro mundo foram instaladas em comunidades carentes, vocações empresariais foram apoiadas… E os gestores se reúnem com o povo antes da construção de qualquer obra para debater a necessidade da obra e o compromisso de todos com a sua manutenção. Assim, o progresso se fez!
O que é instalado em áreas nobres da cidade (praças, áreas de lazer, escolas, hospitais), também é levado às áreas carentes com o mesmo nível de qualidade. Não há diferença nas obras para ricos e para pobres. Calçadas largas, asfalto, sinalização… Tudo, enfim, no mesmo padrão. Os resultados são de espantar! Em pouco mais de 15 anos, com apoio dos habitantes, e com governantes sérios e honestos, Bogotá e Medellín se transformaram em polos de desenvolvimento e de vida digna para seus moradores, além de exemplo internacional de gestão pública voltada para o bem comum – priorizando os mais pobres. A transformação chegou a tal ponto que, hoje, Medellín é considerada pela ONU a segunda melhor cidade do mundo para se investir e, junto com Bogotá, joga no time das dez melhores cidades do mundo para se morar. É o respeito ao próximo gerando resultados em plena América Latina. E isso pode, Arnaldo?
Públio José – jornalista
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