A única empresa transportadora com operação Porto de Natal e rota de exportação de frutas potiguares para a Europa suspendeu as atividades no terminal após as operações que apreenderam quase 3,3 toneladas de cocaína dentro de contêineres, nos dias 12 e 13 de fevereiro. Isso é o que afirmam exportadores do estado atendidos pela CMA-CGM. De acordo com eles, a empresa informou a interrupção do serviço a partir de março, sem previsão para retorno.
“Eles avisaram à gente que estão suspendendo por tempo indeterminado, depois que foi encontrada essa droga. É ruim para todo mundo. Para os produtores, mas também para os funcionários, para o próprio porto, que arrecada menos. É uma ciranda negativa”, considerou Luiz Roberto Barcelos, que é dono da Agrícola Famosa, maior exportadora de frutas do estado, e presidente do Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Norte (Coex).
Uma das razões da suspensão seria o prejuízo para a imagem da empresa, causado pelas apreensões em seus contêineres. De acordo com os exportadores do estado, a falta uma máquina de escâner no terminal, que dificultaria a implantação das drogas em meio às cargas, seria um dos motivos que levou a transportadora a tomar a decisão. A estrutura custaria cerca de R$ 11 milhões.
O Portal G1 tentou entrar em contato com o escritório local da empresa francesa CMA-CGM, durante a manhã desta quinta-feira (21) e enviou um e-mail para a assessoria de comunicação da companhia, na França, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
Atualizada nessa quarta-feira (20), a programação de navios disponibilizada pela empresa no seu site não traz previsão de novas operações em Natal nos próximos meses, ao contrário de outros portos. O último navio da companhia deixou o Porto de Natal no dia 18 de fevereiro.
De acordo com Barcelos, apesar de estar em um período de fim de safra, o setor tem previsão de enviar 400 contêineres de fruta para a Europa no mês de março. Com a notícia da suspensão da operação em Natal, os produtos deverão ser transportados pelo porto do Mucurípe, em Fortaleza, onde a CMA-CGM também atua. A mudança logística encarece o transporte da carga. Enquanto o valor gasto por contêiner em Natal é de R$ 1.800, ele sobe para R$ 2.100 no Ceará. O prejuízo estimado pelo empresário é de cerca de R$ 100 mil. “A gente acaba perdendo competitividade”, considera.
Produtores de estados vizinhos também transportam cargas pelo Rio Grande do Norte e terão que mudar de terminal. Em outubro do ano passado, a própria CMA-CGM informou à Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) que um navio deixou o porto com 479 contêineres refrigerados com melão, melancia, manga e pescados – um recorde mundial de embarque de contêineres refrigerados.
Segundo a própria Codern, cerca de 43 mil toneladas de frutas são embarcadas, por mês, no terminal. Somente os melões foram responsáveis por 53% da exportações estaduais, em janeiro deste ano, com US$ 23,6 milhões, conforme dados do Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Em nota divulgada na quarta-feira (20), a Codern informou que não foi comunicada sobre a suspensão de atividades da CMA-CGM no porto. Ainda de acordo com a companhia, um navio da empresa esteve no porto no último fim de semana e já existe outro confirmado para o dia 6 de abril.
“Ressaltamos que durante o mês de março estão previstas operações portuárias em Natal para desembarque de trigo, embarque de sal, recebimento de navio de passageiros e várias embarcações de pequeno porte, o que configura o funcionamento normal do Porto”, informou.
Em nota, a Codern afirmou que a empresa segue com a programação de navio para o próximo dia 6 de abril. E em março, ainda segundo a Companhia, várias operações portuárias estão programadas. “O pleito para a instalação de um scanner para contêineres no Porto de Natal já foi feito ao Governo Federal em outras ocasiões, não tendo sido possível o atendimento em virtude da crise econômica que atingiu o Brasil, mas reiteramos que novos diálogos já foram iniciados e já estamos fazendo uma atualização orçamentária para a possível compra do equipamento”, disse o órgão na nota.
Outro setor afetado é o das empresas de reciclagem, que em média exportam 1.500 toneldas de material ferroso e não ferroso por mês. De acordo com o presidente do sindicato das empresas de Reciclagem, Roberto Serquiz, as empresas foram informadas pela CMA-CGM que os embarques pelo porto de Natal estarão suspensos a partir de março, “sem previsão para retorno em abril”, reforça.
De acordo com Roberto, cada contêiner carrega até 25 toneladas e as empresas pagam, em média R$ 1.500 por contêiner. Com a suspensão da operação, de acordo com ele, o transporte terá que ser feito por estados vizinhos.
“Isso onera muito o custo. A gente fez alguns cálculos e o aumento chega a 20% ou 30% sobre o valor do contêiner. Além que as taxas que são maiores e a rotina de solicitações que muda e dificulta o processo das empresas”, argumentou. Ainda de acordo com ele, as empresas é que arcam com esse prejuízo, uma vez que os produtos já estão vendidos e os contratos fechados.
Normalmente os produtos reciclados, como alumínio, entre outros, são enviados para o Porto de Roterdã e depois distribuído para a Ásia e norte da África, principalmente. “Essa (CMA-CGM) é a única empresa que nos atende nesse tráfego de Natal para Roterdã”, lembrou o presidente do sindicato.
Duas operações da Polícia Federal apreenderam na semana passada 3,3 toneladas de cocaína no Porto de Natal. Após as ações, a PF informou que a capital potiguar é ponto de partida de uma rota do tráfico internacional de drogas.
A PF afirmou já sabia da existência de transporte pelo ar – caso em que o entorpecente é levado na bagagem ou preso ao corpo de passageiros de aviões. O trajeto marítimo é novidade, de acordo com Delegacia Regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF no Rio Grande do Norte.
As duas apreensões feitas pela PF com a ajuda da Receita Federal foram as primeiras da história do terminal, aberto em 1932. Nunca uma operação policial havia descoberto drogas no Porto de Natal. Os tabletes – 998 na terça-feira (12) e outros 1.832 no dia seguinte – totalizaram 2.830 pacotes de cocaína. Estava tudo escondido em meio a mangas e melões encaixotados em contêineres. O destino era o mesmo: o porto de Roterdã, na Holanda.
Fonte: G1RN
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