Os Estados Unidos enfrentam aumento de casos e de hospitalizações por Covid-19 e veem estagnados os números da vacinação, enquanto órgãos do governo e entidades de saúde alertam contra o uso da ivermectina. O remédio antiparasitário que já teve a ineficácia comprovada contra o novo coronavírus é defendido por grupos antivacina e no, mais recente capítulo nos EUA, a sua prescrição foi parar em um tribunal de Ohio.
Na segunda-feira (30), o juiz Gregory Howard proferiu uma decisão liminar para que o Hospital West Chester, localizado nos arredores de Cincinnati, em Ohio, trate um paciente com Covid-19 com ivermectina.
A ação foi movida pela mulher do paciente Jeffrey Smith, que recebeu uma receita de ivermectina do médico Fred Wagshul, um dos fundadores do grupo chamado “Front Line Covid-19 Critical Care Alliance” (FLCCC), que defende o uso do vermífugo. O FLCCC, entre seus argumentos pró-ivermectina, cita uma pesquisa favorável à droga que teria sido feita na Argentina, mas que é alvo de críticas metodológicas e apresenta falhas.
De acordo com a imprensa americana, o caso do paciente Jeffrey Smith será avaliado por um tribunal de apelações. O hospital alega que segue as recomendações da agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês), que não aprova o uso. Além disso, o hospital alega que o médico pró-ivermectina indicou o remédio sem conhecer o histórico do paciente.
Aumento do uso
Um relatório recente dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) mostrou que, em meados de agosto, os médicos assinavam mais de 88.000 receitas do medicamento por semana, muito acima do nível pré-pandêmico, de 3.600, de acordo com a agência AFP. Os centros de controle de intoxicações registraram o triplo de chamadas por overdose de ivermectina.
Na quarta-feira (1º), na mesma semana em que o processo movido pelo paciente ganhou repercussão nos Estados Unidos, três entre as entidades de saúde mais relevantes do país, a American Medical Association (AMA), a American Pharmacists Association (APhA), e a American Society of Health-System Pharmacists (ASHP) assinaram uma nota conjunta contra o uso de ivermectina para tratar ou prevenir a Covid.
No fim de agosto, a agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) fez um alerta em sua conta no Twitter, sobre o uso da ivermectina, remédio ineficaz contra a Covid-19
“Você não é um cavalo. Você não é uma vaca. Sério, pessoal, parem com isso”, afirmou a FDA na publicação, trazendo ainda um link para um posicionamento da agência, divulgado em maio deste ano, onde indica: “Por que você não deve usar ivermectina para tratar ou prevenir Covid-19”.
A droga é aprovada pela FDA para uso em humanos contra parasitas e também no uso veterinário em certas condições.
Em maio, a FDA detalhou que a versão da ivermectina para uso animal é altamente concentrada, pois é usada em animais de grande porte, como cavalos e vacas, que podem pesar muito mais do que um ser humano – uma tonelada ou mais. “Essas altas doses podem ser altamente tóxicas em humanos”, afirmou.
Estudo alvo de críticas
Grupos antivacina nos EUA estão adotando como argumento favorável ao uso da ivermectina um trabalho questionado pela comunidade científica. Trata-se de um estudo argentino divulgado no ano passado que alegava que o medicamento preveniu 100% das infecções de Covid-19 entre profissionais da saúde. Hoje, contudo, pesquisadores questionam se os fatos descritos do estudo são verdadeiros.
Segundo reportagem do BuzzFeed News publicada na quinta-feira (2), os números, gêneros e idades dos participantes do estudo eram inconsistentes. Além disso, um hospital citado no artigo disse ao site não ter participado e as autoridades de saúde de Buenos Aires também disseram que o estudo não teve aprovação dos órgãos locais.
Conforme o estudo, teriam participado da pesquisa 1.195 profissionais de saúde que trabalham em 4 dos maiores hospitais da Argentina.
O pesquisador que liderou a investigação, o endocrinologista Hector Carvallo, se recusou a compartilhar os dados brutos da pesquisa com a imprensa e até mesmo com um dos co-autores da pesquisa, que após a negativa retirou o nome do estudo.
Fonte: G1