ARGUMENTUM AD NAUSEAM –

Poucas coisas conseguem irritar tanto um telespectador, ou mesmo um interlocutor, quanto a repetição interminável do mesmo tema, seja defendendo ou acusando. O mesmo assunto levado ao ar ad infinitum (que não tem fim ou limite) desculpem o latinismo, pode também ser chamado de argumentum ad nauseam (argumentação até provocar náuseas)!

É exatamente o que tem acontecido no noticiário da TV GLOBO em referência ao Presidente Bolsonaro. Alguns apresentadores ficam meio constrangidos, outros faltam pouco entrar em orgasmo, como é o caso de William Bonner que é também editor-chefe do Jornal Nacional – JN. Contabilizei exatas vinte e três vezes, numa mesma edição do JN, o relato do episódio em que Alexandre Ramagem diz que não é íntimo do presidente e o próprio Bolsonaro diz o contrário, que é amigo e comem pão com leite condensado juntos na sua casa; que quer mudar a direção da Polícia Federal para não prejudicar seus filhos, etc., etc. Sinceramente, acho que Fátima Bernardes ainda aguentou muito tempo para suportar tanta insistência epileptforme.

Por outro lado, o nosso atual Presidente da República é completamente refratário ao aprendizado. Declarações precipitadas e levianas; não segue as reomendações dos seus assessores em relação à pandemia; atropela ministros e os surpreende com decisões inesperadas e contraditórias; não consegue ter o comportamento inerente ao cargo que ocupa. O seu maior detrator é ele próprio, ganha até para o Bonner, talkey?!

​Fatos total e completamente irrelevantes envolvendo o presidente tomam conta da mídia e nenhum dos dois lados abre mão. Apresentar o resultado de um teste para o COVID-19 torna-se assunto tão importante que vai bater no Supremo Tribunal Federal – STF. Parece até brincadeira de menino buchudo… Qual o problema em apresentar o resultado de um exame? Porque a implicância em querer saber esse resultado, levando a polêmica às últimas consequências?

​Estava na hora de acabar com os desmandos do PT e o único com capacidade de realizar tal proeza era o Bolsonaro. Votei nele e votaria de novo. Mas, cá prá nós… merecemos algo melhor. Tenho alguns amigos petistas. Embora sempre procuremos evitar falar em política, volta e meia o tema entra em pauta. O que acho mais interessante é que eles nunca defendem diretamente os autores de desmandos comprovados. A defesa é sempre o ataque: E Aécio Neves? E o Bozo defendendo torturadores, tipo Carlos Brilhante Ustra? E o Moro que só botava petistas na cadeia?… são todos nazi-fascistas! Ao que respondo: os extremos se tocam. Quem você prefere Hitler ou Stalin? O pior, o mais incrível, é que os políticos do PT não têm nada de socialistas – assim como os dirigentes russos – estão todos podres de rico e quando são presos é por roubar o patrimônio público. Como diria Winston Churchill o socialismo é “a equidade na partilha da miséria”.

​Engraçado é que nessa pandemia tem radicais dos dois lados: contra e a favor do isolamento. Cada lado mais radical do que o outro. Alguns bolsonaristas que são contrários ao confinamento (loquedaune, como diria Woden Madruga), para não prejudicar a economia, usam argumentos petistas: – E o H1N1, o infarto, os acidentes automobilísticos e outras patologias matam muito mais do que o COVID-19…

​Em tempo: O argumentum ad nauseam assemelha-se ao argumentum ad infinitum, que é uma argumentação sem fim, constituída de infinitos passos lógicos. Observe-se que, em termos aristotélicos, uma série conceitual infinita não é inteligível. O argumentum ad infinitum baseia-se na falácia de que, se ninguém rebate o argumento, ele está correto – uma falácia semelhante à que sustenta o argumentum ad nauseam: uma afirmação insistentemente repetida é capaz de eliminar toda objeção (eventualmente, pelo cansaço do interlocutor) e, assim, mostrar-se verdadeira – mesmo sem que haja prova ou ainda que seja logicamente inconsistente.

​Repito aqui como Millôr Fernandes: sou radicalmente contra o radicalismo!

 

 

 

Armando Negreiros – Médico e Escritor, [email protected]
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Uma resposta

  1. Que bom vê-lo em toda sua plenitude criativa. Que bom, Armando, que tenha despertado e posto em prática a conhecida verve crítica, inteligente e engraçada que encanta seus leitores.
    Parabéns, estimado amigo.

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