O governo da Armênia afirmou nesta sexta-feira (2) que está disposto a trabalhar com o grupo de mediação liderado por Rússia, Estados Unidos e França, para instaurar um cessar-fogo em Nagorno Karabakh, onde as tropas do Azerbaijão enfrentam desde domingo os separatistas apoiados por Yerevan.
Na quinta-feira, os presidentes da Rússia, França e Estados Unidos pediram o fim do conflito.
Os combates entre armênios e azeris por Nagorno Karabakh continuam nesta sexta-feira (2), com ataques do Azerbaijão contra a principal cidade da região separatista. Baku tem reiterado sua determinação na disputa, embora Yerevan tenha aberto as portas para a mediação.
Após este primeiro gesto armênio no sexto dia de hostilidades, Baku ressaltou que o conflito tem apenas um resultado: a retirada armênia de Nagorno Karabakh, uma região do Azerbaijão habitada principalmente por armênios e que se separou com a queda da URSS.
O Ministério da Defesa azeri divulgou um vídeo que mostra o que seria a destruição de alvos inimigos.
Ao mesmo tempo, a França acusou a Turquia de agravar a situação ao enviar, segundo ela, “jihadistas” da Síria para lutar com os azeris.
A principal cidade separatista, Stepanakert, foi atingida por bombardeios do Azerbaijão, causando “muitos feridos entre a população civil” e danos materiais, de acordo com o Ministério da Defesa da Armênia.
Sirenes de ambulâncias soaram na cidade, onde várias explosões foram ouvidas nas últimas horas, segundo um correspondente da AFP.
Em ambos os lados da frente, os moradores estão determinados.
No distrito de Fizouli, no lado do Azerbaijão, as crianças foram evacuadas de localidades próximas à frente, de acordo com um fotógrafo da AFP. Muitos homens se ofereceram para lutar.
“Não temos medo, não temos muitos feridos”, disse Anvar Aliev, 55 anos, um taxista azeri, pedindo a “retomada de nossas terras”.
O exército armênio acusa Baku de usar “munições cluster”, que são proibidas, enquanto o Azerbaijão alega que jornalistas foram alvos de fogo de artilharia armênia em um vilarejo azeri.
‘Linha Vermelha’
Macron, que tem relações difíceis com Recep Tayyip Erdogan, disse na quinta-feira que 300 combatentes “jihadistas” deixaram a Síria para se juntar ao Azerbaijão via Turquia. Uma “linha vermelha” para o francês.
“Isso é desinformação”, respondeu o assessor da presidência do Azerbaijão, Hajiyev.
A Rússia havia relatado informações semelhantes, sem acusar diretamente Ancara, com quem tem uma relação complicada, mas pragmática.
Nesta sexta-feira, a porta-voz da diplomacia armênia voltou a afirmar que “o exército turco está lutando ao lado do Azerbaijão”. Alegações rejeitadas pelos interessados.
Uma intervenção direta da Turquia constituiria uma internacionalização deste conflito em uma região, o Sul do Cáucaso, onde várias potências estão em competição: Rússia, Turquia, Irã, países ocidentais.
Nagorno Karabakh, habitada principalmente por armênios, separou-se do Azerbaijão, levando a uma guerra no início da década de 1990 que deixou 30 mil mortos. A frente estava quase congelada desde então, apesar de alguns confrontos regulares, principalmente em 2016.
Ambos os lados ignoraram em grande parte os múltiplos apelos da comunidade internacional desde domingo para baixar as armas.
De acordo com Moscou, Rússia e Turquia estão prontas para “uma coordenação estreita para estabilizar a situação” em Nagorno Karabakh. Ancara não se manifestou, entretanto.
A Rússia mantém relações cordiais com os beligerantes, duas ex-repúblicas soviéticas, mas é mais próxima da Armênia, que pertence a uma aliança militar liderada por Moscou.
Nenhum lado parece ter conquistado vantagem sobre o outro.
Nesta sexta-feira, Yerevan garantiu que o exército azeri “não conseguiu romper as defesas armênias”, enquanto Baku disse que havia tomado posições no norte e forçado os armênios a recuarem no sul.
De acordo com balanços parciais comunicados desde domingo, 190 pessoas morreram: 158 soldados separatistas, 13 civis armênios e 19 civis azerbaijanos. Baku não comunica suas perdas militares.
Mas o número de mortos pode ser muito maior: a Armênia afirma que 1.280 soldados azerbaijanos morreram, enquanto Baku afirma ter matado 2.300 soldados adversários.
Dois jornalistas franceses feridos na quinta-feira (01) em Karabakh estão sendo retirados da região, segundo a diplomacia francesa.
Fonte: G1