O EXEMPLO OLÍMPICO –
“Se todos quiserem, poderemos fazer deste país uma grande nação. Vamos fazê-la. O papel mais arriscado quero-o para mim.” – Joaquim José da Silva Xavier
A Olimpíada 2016, no Rio de Janeiro, chega ao seu final e deixa, para os bons entendedores, algumas lições de brasilidade. O esporte é um grande agregador social e difusor eficiente dos bons valores humanos e sociais, como a convivência e a tolerância com a vitória ou a derrota. O semitismo do judoca muçulmano, a arrogância do francês derrotado pelo brasileiro no salto em vara, a calhordice do nadador americano mostraram, em negativo, o sucesso da Olímpíada no Brasil. Mas, as maiores lições vieram do futebol. O país do futebol pouco ensina e nada aprende. A seleção feminina, sem medalhas, conquistou as arquibancadas e, no desabafo do peito cansado: “não abandonem o futebol feminino”, mostrou a face cruel de um país que gasta bilhões para sediar uma olimpíada, mas é incapaz de reconhecer seus talentos e oportunizar suas carreiras. Elas não precisavam desabafar, o brasileiro se apaixonou, com a sua habitual passionalidade, por elas, mas, na exaustão olímpica, cravaram com letras garrafais o descaso que as autoridades brasileiras tratam o esporte olímpico. A maioria dos medalhistas não era conhecida, tampouco suas histórias, e os suas imagens invadiram os lares em todo o país e deixaram interrogações sobre os verdadeiros valores cultuados na sociedade brasileira. Os que precisam de apoio do Estado recebem a porta na cara e, por não acreditarem nas instituições, continuam buscando seu ideal como Deus permite, geralmente em outros países, o que torna a vergonha maior.
A maior lição estaria por vir e veio da seleção masculina de futebol. A estreante seleção olímpica de salto alto, sob o comando de um ídolo sem noção da própria grandeza e de sua importância para a nação, recebeu o troco em vaias ou aplausos. O escrete brasileiro não aguentou a pressão do povo diante do fracasso retumbante das primeiras partidas e o sangue frio com que justificavam os fracassos e o capitão Neymar, com apresentações pífias, declarações desastrosas e péssimos exemplos como o maior representante do time brasileiro, entrou em conflito com o povo e, pasmem, reconheceu o erro e assumiu o verdadeiro papel que um capitão de uma seleção brasileira de futebol, no país do futebol e na olimpíada em sua própria casa, deveria assumir e o resultado foi elogiável. Neymar mostrou o craque que é, o brasileiro que deveria ser, a bela face da vitória e o brilho de um grande aprendiz. A comparação do seu desempenho com o de Marta, a melhor jogadora de futebol feminino dos últimos tempos (e sem medalha de ouro) mexeu com seus brios e a ansiedade dos jogadores que entenderam, por fim, que a torcida não queria apenas a vitória, mas a dignidade na representação do país, no orgulho de defender a seleção canarinha e no respeito ao hino e aos símbolos nacionais.
A recuperação da identidade nacional foi o grande feito e merecidamente comemorado. Para que existam ídolos é preciso que exista a nação e essa harmonia não pode ser alterada com “xiliques” de quem quer que seja. Após a premiação, o desabafo: “vocês vão ter que me engolir”, numa referência a Zagalo. Apesar de descabida, a declaração mostrou o quanto o repúdio nacional pesou nas suas costas e o quanto se aprende com a humildade. O Neymar saiu dos jogos olímpicos diferente, mais forte, mais querido, mais brasileiro e a seleção, sob o seu comando, com o título que dará o ponta pé inicial na difícil recuperação da seleção canarinha no ranking mundial. Um ídolo pode negar tudo, menos a identidade com o país que representa e os exemplos vitoriosos, que eram anunciados diariamente, foram, talvez, as balizas que mudaram o destino da seleção masculina de futebol na RIO 2016. O povo tinha razão. Era preciso mudar. E a mudança mostrou que a relação entre ídolo e torcida é permeada pelo amor ao futebol, pelo entusiasmo nas vitória, pela dignidade nas derrotas e pela aceitação do torcedor.
Neymar foi exemplo como capitão da seleção masculina de futebol olímpico e, se nossas autoridades tivessem o mínimo de respeito à nação, um espelho para os governantes. Amanhã, passada a euforia da olimpíada 2016, vamos nos deparar com a insensatez de nossas autoridades que, longe de serem um “Neymar”, protagonizam os mais degradantes papéis que mancham a República, que envergonham a sociedade e subvertem a brasilidade e sem chances de uma correção de rumos, como fez Neymar, ao calar mais forte o civismo do que o cinismo. Mas, os brasileiros assumirão o papel de capitães do país e exigirão, mais que mudanças, o respeito e mostrarão aos poderes da República e seus representantes, que não há pódio sem luta, que não há vitória sem dignidade, que não há nação sem civismo. O futebol, numa demonstração de respeito ao povo, é medalha de ouro e nossas autoridades, lamentavelmente, estão (e continuarão) carcomidas pelo cheiro desagradável do “azinhavre” dos mais desvalorizado dos metais, exceto se admitirem, em suas insanas representações, que não há autoridade maior do que a sociedade; poder sem dignidade; Brasil sem brasilidade; como Neymar, um garoto estragado pela soberba, aprender a dura lição de que o verdadeiro valor de um governante está no exemplo e no peito que calou fundo (e a duras penas) o orgulho de ser brasileiro e que a grandeza de um ídolo não está em vencer sozinho, mas com seu povo, na mais bela conjunção nacional.
Adauto José de Carvalho Filho – AFRFB aposentado, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, Consultor de Empresas, Escritor e Poeta.