A FUGA DO VALENTÃO –
Campanha política bastante acirrada no município de Ceará-Mirim, pelos anos de 1960, à procura de votos para ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa Estadual. Protagonistas e extremistas ferrenhos: um filho da terra, muito querido na cidade, de família tradicional da região; o outro um forasteiro, tido como valentão e desbocado.
A campanha toda foi desenvolvida em cima de acusações pessoais de ambos os lados; O visitante/estrangeiro, desfilava conduzindo em cima do seu veículo de propaganda, de forma escancarada e bem visível, um caixão de defunto, como deboche para achincalhar o seu adversário, que tinha lhe ameaçado de morte, com um tiro de espingarda calibre 12, caso continuasse a destilar o seu poderoso veneno nos seus agressivos e insultantes comícios.
A disputa cada dia mais esquentava e mexia com os nervos dos eleitores do cidade; na reta final, foi anunciado o grande e vitorioso comício do contundente candidato, com promessas de mais agressividade e insultos ainda mais ferinos. A multidão, superansiosa e nervosa, se aglomera em uma ampla área próxima ao Mercado Público, aguardando os desaforos eloquentes do candidato e o cumprimento, ou não, da promessa feita pelo valente candidato.
– “É chegada a hora”! Anuncia o locutor, com muita vibração e entusiasmo:
– “Agora, com a palavra, o já vitorioso deputado estadual, o “cabra macho” – sim senhor!
Silêncio absoluto, muita expectativa; todos ansiosos e nervosos esperando o corajoso e vitorioso discurso.
Sem ninguém imaginar, nem esperar, diante do silêncio sepulcral, de repente alguém, ninguém sabe de onde, explode um petardo de uma bomba “cabeça de gato” e faz a multidão se espalhar em total pânico, com muita gente se ferindo; gritos alarmantes e destruição total do palanque; ambiente totalmente esvaziado em poucos minutos, inclusive com a fuga relâmpago e misteriosa do candidato valentão.
Berilo de Castro – Escritor