dalton

Política –

Faz algum tempo que não escrevo sobre política, especialmente sobre a nossa. É que tenho procurado evitar assuntos malcheirosos. Nos meus anos finais de vida, procuro preencher meus pensamentos, e meu tempo, com coisas agradáveis. E a nossa política, infelizmente, está cada dia pior.

Não que faça como um amigo, já falecido, que respondia, sempre que instado a falar sobre a política no Brasil: não, não quero falar sobre isso, eu aqui sou turista. Ao contrário, acompanho diariamente tudo o que acontece. Segui com interesse, e certa preocupação, todo o processo do impeachment. Não desliguei da TV Senado enquanto não foi declarada a conclusão do processo. E vi meus prognósticos confirmados com a quebra de um artigo da Constituição, por simples decisão da mesa – sem consulta ao plenário – e ainda por cima, com a participação entusiástica do próprio presidente do STF que, segundo os preceitos legais, deveria ser o seu grande defensor.

O impedimento de Dilma Rousseff era esperado. Os desmandos, a irresponsabilidade, o desprezo pelos assuntos importantes do país, sua autossuficiência e arrogância, não poderiam senão conduzir a essa decisão. Para o bem do Brasil! A situação a que chegamos, em todas as áreas, demandava essa decisão. Não tinha mais condições de governar o país. Sua saída foi um alívio. Comprovado por todos os indicadores econômicos e todas as análises políticas.

O que se seguiu como procedimento nas votações é que foi um acinte ao povo e a nossa Constituição. Dizem todos os jornais que estava tudo combinado. Confesso que fiquei surpreso com a desenvoltura do presidente ao apresentar o assunto ao plenário. Dava a impressão de ser uma figura de grande preparo. Comecei a desconfiar, quando começou a apresentar documentos, regimentos, decisões, que encaminhava ao que ficou conhecido como fatiamento mas que, no fundo, foi um grave desrespeito ao artigo 52 da Constituição. Esse artigo é extremamente claro quando diz que o impeachment é automaticamente seguido pela perda de direitos políticos. E nada mais lógico: como alguém cassado pode continuar a exercer funções públicas? Inacreditável!

A minha desconfiança da maioria dos políticos, que não é só minha mas parece ser de todos nós, se confirmou. Como, honestamente, se pode votar pela cassação e em seguida votar pela manutenção dos direitos políticos? Quando vi o resultado, confesso que tive um choque. Essa incrível decisão acentuou minha desconfiança dessa classe. Ficou evidente que, se alguns merecem o nosso respeito, um grande número se mostra cada vez mais incompetente e parcial, colocando acima dos interesses do país o seu próprio e de seus comparsas. Devemos esclarecer; incompetentes para defender os assuntos de interesse do país, mas extremamente competentes para defender os seus próprios interesses.

Com todos os problemas que temos pela frente, com decisões graves que nos permitam enfrentar essa terrível crise econômica que nos ameaça, essa crise política agora agravada, como podemos acreditar em sua solução? Com esses políticos que elegemos? Quando, em vez de alertar o povo para as dificuldades, dela compactuam para tirar proveito próprio? Estamos mal, muito mal. E não vejo luz no fim do túnel.

Dalton Mello de AndradeEx-secretário de Educação do RN

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