Figuras folclóricas da Ribeira (IV) –
Uma das figuras mais folclóricas da Ribeira, sem dúvidas, foi Zé Areia. Já falei sobre ele numa destas crônicas, mas lembrei-me de algumas estórias que não posso deixar de passar adiante. Zé Areia vivia do que, naquele tempo, se chamava de “expedientes”. Vendia bilhetes de loteria, fazia rifas, pedia “empréstimos”, e conseguia viver e sobreviver.
Vinha ele puxando um carneiro. Vendia a rifa do animal. Passou em frente à alfaiataria de “seu” Bevenuto, esquina da Dr. Barata com uma daquelas travessas que terminam na Rua Chile. Na porta, Dão, filho do dono, que foi um grande jogador do Santa Cruz. Areia lhe oferece uma rifa do carneiro e recebe como resposta “quero lá rifa desse carneiro, que parece ser veado”. Zé nada disse e continuou no seu “trabalho”. Na volta, ainda na porta da alfaiataria, Dão pergunta: como é nome desse carneiro fresco? Resposta, na bucha: Bevenuto.
Na esquina da Tavares de Lyra com a Dr. Barata, para um papo matinal, se reuniam alguns comerciantes do bairro; Júlio César, José Tinoco, Henrique Santana. Raul Ramalho, João Rodrigues…
Chega Zé Areia, com a rifa de uma sela. Sabendo que José Tinoco era fazendeiro, oferece a rifa a ele. Tinoco responde, para que diabo eu quero sela, se não sou cavalo? E ele, de imediato: também serve pra burro.
Doutra feita, encontra José Tinoco na rua e pede um “empréstimo”. Tinoco pergunta se ele quer um trabalho. Confirma que sim, entusiasmado. Então passe no meu escritório, daqui a uma hora, que tenho um trabalho para você e que você vai gostar. Na hora aprazada, chega Zé Areia e Tinoco diz: tome essas duplicatas e vá cobrar. Você tem metade do que receber.
Sai com as duplicatas e não deu mais notícias. José Tinoco, dias depois, o encontra na Tavares de Lyra e pergunta: como vão as cobranças? Respostas: os meus 50% já recebi e agora estou batalhando para receber os seus. Pano rápido.