SER VELHO É DIVERTIDO –

Difícil alguém negar isso. Primeiro estar vivo já é uma diversão. Num país onde a idade média é em redor dos setenta, ultrapassar essa barreira já o deixa feliz. Depois, quando você olha uma mulher bonita e vê um comprimido de Viagra, sabe que ainda está mesmo vivo. E, depois, não enxergar o Viagra ao ver uma mulher feia, é a prova definitiva desse divertimento.

Mas, essa diversão vai além disso. Acompanhar suas mazelas pela internet, e tentar surpreender seu médico com as novidades científicas sobre os seus males, é outro prazer. Só desmanchado quando ele diz “essas pesquisas estão no início e o uso por aqui não está autorizado pela Anvisa”, é que você cai na real. Essa tal de Anvisa só faz atrapalhar.

Escolher a roupa para vestir não é problema. Uma bermuda e uma camisa polo quebram qualquer galho. Ruim é o dilema da bengala. De metal, mais leve, de madeira, mais pesada? Qual a mais apropriada? As pernas estão muito bambas ou dá para deixar a bengala em casa? Vai chover? Uso só o chapéu ou preciso levar o guarda-chuva? Depois, o dilema maior. Que diabo vou fazer na rua? Não é dia de supermercado, nem preciso ir ao Banco, já que resolvo tudo pela internet. Não, com essa falta de segurança e esse desrespeito aos mais velhos, melhor ficar em casa. E o trânsito…

Vou ler os jornais, com dúvidas e notícias que lembram os anos trinta. Nenhuma diferença. Políticos que não evoluíram. Roubos e assaltos. Preços que sobem. Desonestidade e ladroeira por todos os lados. Desisto. Vou para o computador – salvador da pátria – e volto a ver as notícias, de preferência as internacionais, também sem nenhuma novidade. Explosões de bomba, assassinatos, muçulmanos matando não muçulmanos, mas especialmente outros muçulmanos, mais do mesmo. O divertimento que sentíamos já não é o mesmo. Tristeza.

Minha solução? Ouvir música. Às vezes, meus próprios discos, dos quais tenho uma razoável coleção. Ou na TV, programas como YouTube, ou Deezer, ou outro qualquer. Há centenas, a grande maioria grátis, ou um anúncio aqui e outro acolá. Vale.

O que ouvir? À sua escolha. Para cada gosto sua mania. Prefiro meus três gêneros preferenciais. Clássicos, jazz, bossa nova. Mas as possibilidades são infinitas. E aí você tem programas monumentais, dos grandes astros do passado, aos poucos de hoje em dia. Pode ouvir Rubinstein tocando Chopin, ou  Jobim com sua música monumental. E também faço pesquisa aleatórias. Para surpresas agradáveis.  Há poucos dias encontrei Dick Farney, num “V-Disk” gravado pelos americanos durante a II Guerra.  Grandes orquestras ou pequenos conjuntos. Deleite-se.

Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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