MARIAS, PRINCESAS & RAINHAS – 

 Dilma Rousseff foi a terceira mulher a governar o Brasil. A primeira, Dona Maria I, “a Piedosa” ou “a Louca”, foi princesa do Brasil e rainha de Portugal. E, depois, entre 1815-1816, rainha do Brasil sob regência do filho João Maria, o Dom João VI. Outra rainha tivemos no Brasil Colônia: Dona Maria, segunda esposa do Rei Venturoso Dom Manuel. Entretanto, o meu encantamento é pela chamada Rainha de Sabá, a infanta Dona Maria de Portugal (1521-1577). Era muito rica, tinha muitos tesouros, piedosa e generosa. Por isso, seu pai, o rei Dom João III, não consentiu que casasse, apesar de oito propostas de casamento. Carolina Michaëlis de Vasconcelos fez sua biografia, lembrando que, entre outros títulos, recebeu do povo o de “Princesa das Princesas”.

A princesa Isabel governou o Brasil na ausência do pai, o imperador Dom Pedro II, por quase quatro anos, com determinação, inteligência e bondade. Entre os seus professores, fixou-se em Joaquim Manoel de Macedo. O mesmo recusara ser o ministro do império. O autor romântico de “A Moreninha”, best-seller até hoje, criou a personagem-título, Carolina, astuta, inteligente, determinada, só fazia o que tinha vontade. Teria transmitido à princesa dever exercer essas qualidades?

Dois fatos: em 1871, o ministro da Justiça pediu à princesa para assinar a sentença de morte de um escravo que matara seu violento senhor. A princesa não gostou da sugestão. Para convencê-la, lembrou-lhe que sua ancestral Dona Maria I havia recusado clemência à mãe de um condenado à morte, dizendo: “O meu coração de mãe e de mulher perdoa, mas a minha cabeça de rainha, não perdoa”. A princesa, apenas sorriu e indagou: “Senhor ministro, então o senhor não sabia que minha tataravó era louca? ”. E se recusou a assinar.

Outro episódio relacionado a Isabel. O Barão do Rio Branco fez 19 discursos no Senado em favor da Lei do Ventre Livre, que a princesa estimulava. Na aprovação da Lei, a plateia jogou flores sobre o barão. O embaixador norte-americano pegou um punhado das flores e comentou que iria mandar para o seu país, explicando “aqui são flores, lá custou sangue”. Outras flores, dessa vez camélias, foram plantadas no Leblon, Rio de Janeiro, com recursos da princesa. A camélia era símbolo do abolicionismo.

Em um jantar, Ariano Suassuna me surpreendeu afirmando: “Como o povo brasileiro, sou anarquista pela liturgia”. E me disse coisas assim: “Você quando vê uma mocinha muito bonita, diz que é uma princesa. Nunca se ouviu falar no presidente da voz, do futebol, da beleza. Mas é rei Roberto Carlos, Pelé, e são rainhas as misses. Quando se quer elogiar uma pessoa se diz que tem gestos principescos, é um nobre. Um fazendeiro abastardo é simplesmente um barão”.

O instigante e certeiro Nelson Rodrigues já havia sentenciado: “Em Brasília todos são inocentes e todos são cúmplices”.  Ele lembra o deslumbramento de Marx e Engel por Balzac. Este havia escrito no prefácio do aclamado “A Comédia Humana”: “Escrevo à luz de duas verdades eternas: a religião e a monarquia”.

Em 1993, houve um plebiscito para que o povo brasileiro decidisse sobre o regime político desejado. O regime monárquico foi derrotado, teve apenas 13,4% dos votos. Se fosse vitorioso, Dom Luís Gastão de Orleans e Bragança seria nosso rei. O problema, talvez, é que o plebiscito aconteceu no dia 21 de abril, dia em que foi enforcado Tiradentes sob o governo de Dona Maria I, realmente louca.

Com a retirada de Dilma, cresceram restrições ao presidencialismo. Não seria a hora de um novo plebiscito?

Diogenes da Cunha Lima – Escritor, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

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