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A MORTE DO VELHO CHICO –

 Na verdade o Velho Chico não morreu, permanece vivo entre nós.

Assim como o Rio, ele teve no seu início de vida grandes dificuldades. Já aos nove anos, era arrimo de família. Assim como o Rio nasceu em uma pequena cidade do interior há aproximadamente 88 anos. Assim como o Rio procurou o mar, aos dezoito anos ingressou na Marinha indo morar na Cidade do Rio de Janeiro onde viveu boa parte de sua mocidade, retornando a Natal nos fins doa anos 50 (se não me falha a memória) onde se estabeleceu como comerciante no bairro do Alecrim ficou até o fim da vida. Seu nome: Francisco Nunes de Carvalho ou Chico Nunes para muitos, para nós carinhosamente Tio Chico.

 Assim como o Rio Tio Chico teve início e fim, assim como Rio ele conseguiu no final de sua vida descansar em mar aberto, mar tranqüilo. Assim como o Rio, a vida de Tio Chico foi sempre de alegria, por onde passava suas historias eram contadas. Assim como o Rio tinha a sua hidroelétrica, que gerava força, energia, luz, era o seu caráter, a sua personalidade a sua alegria. Assim como o Rio tinha seus afluentes, seus filhos, seus parentes onde embocava seus ensinamentos, o seu modo de viver. Assim como o Rio tinha a população ribeirinha, éramos nós seus sobrinhos afins que todos os sábados sentávamos ao seu redor em uma mesa da Confeitaria Atheneu para ouvir suas histórias. Mas diferente do Rio, a sua transposição não gerou polemica, deixando o corpo aqui na terra ele transpôs a barreira do desconhecido com calma, tranqüilidade sem incomodar a ninguém. Quando eu soube do seu falecimento, me veio uma silenciosa tristeza, mas quando cheguei ao seu velório, vi que quase todos, embora tristes sorriam quando se falava das suas histórias. Não teve o final triste, Deus foi justo com ele, era um velho menino.

 Amava a Confeitaria e seus “sobrinhos”. Contou-me seu filho Paulo de Tarso que nos sábados ele desde oito horas da manhã ficava olhando para o relógio esperando chegar às onze horas para que um dos seus filhos ou netos o levasse a Confeitaria, a volta ficava sobre a nossa responsabilidade.

O seu aniversário era comemorado todos os meses de agosto. Quando ele completou oitenta anos, estávamos em uma movimentada mesa, de repente surge uma linda morena. Todos se viraram para contemplar aquela formosura de mulher. Silêncio total, olhos arregalados, quando Tio Chico passando a mão na cabeça exclama.

 – Ai se eu ainda tivesse uma pomba.

Todos começaram a rir. Era assim o nosso querido Tio Chico. Vamos sentir as suas falta. Aos sábados já contemplamos o lugar a onde ele sempre sentava, com certa nostalgia. Já lamentamos a sua ausência, mas fica a lembrança das suas alegrias. Com certeza a música de Sérgio Bittencourt já é lembrada e vamos repetir, “Naquela mesa estar faltando ele”.

Guga Coelho LealEngenheiro e escritor

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