Adauto José de Carvalho Filho
Uma palavra roubou a cena na sessão que aprovou a admissibilidade do impeachment da Presidente da República. Os aliados do governo, como se não conhecessem os fatos, descarregaram as baterias contra o Presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha, acusando-o de corrupção e de ser réu em três processos no STF. Na verdade, no afã de abortar o crescente movimento “FORA DILMA”, que invadiu as ruas e com a arrogância dos imbatíveis, o governo utilizou-se do aparelhamento do STF e fez tramitar, em tempo célere, o processo contra o parlamentar. Nada a favor de Cunha, não tenho compromisso com corrupto ou bandido, se for o caso, mas a história prega peças aos incautos. A admissibilidade foi admitida e o processo foi para o Senado Federal que, sob a presidência de Renan Calheiros, será dada a última pá de cal no assunto e, segundo alguns observadores, em 11 de maio.
O interessante é que a bancada governista vai ter a seu favor e sob os seus auspícios, um parlamentar que é campeão de processos, sob os mais variados crimes, no STF. Como se comportará a bancada governista em relação ao Senador Renan Calheiros? A proposital agressão ao Deputado Eduardo Cunha constrangia a quem assistia e mostrava até que ponto estamos nas mãos de governantes e seus aliados nas vísceras dos três poderes e à deriva de artimanhas políticas. Desconhecendo o fato da sessão, que era a admissibilidade do pedido de impeachment presidencial, como sempre, se defenderam acusando outra pessoa, cujos fatos que o incrimina, não estavam em apreciação. Não colou.
Agora a história inverte os papéis e a artilharia da situação vai para o confronto no Senado sob o comando de Renan Calheiros. Será que, por coerência, vão dedicar ao Presidente do Senado o mesmo tratamento que deram ao Presidente da Câmara Federal? Não? Por que? A palavra hipocrisia quando pronunciada sem qualquer critério perde seu sentido conotativo. O mesmo governo vai idolatrar outro personagem marginal da vida pública brasileira e com uma biografia pregressa muito maior do que a de Cunha, por está em suas mãos, embora saiba que a batalha está perdida. É o posicionamento passional ou de ocasião e, segundo o dito popular, é a ocasião que faz o ladrão e, como nas nuvens, cada qual ver o que quer. Que venham mais incoerências e hipocrisias
Outra incoerência dos homens do poder, mais poder do que homens foi a decisão do STF de autorizar a investigação contra um assessor do ex-presidente Color, sob os indícios de compra de votos. E o mesmo colegiado (nem a PGR, nem o Ministério Publico Federal) tomou conhecimento das barganhas, ao alto custo da desmoralização das instituições, protagonizadas pelo cidadão Luis Inácio Lula da Silva, que montou um governo paralelo em um Hotel em Brasília para o aliciamento de parlamentares, nas barbas do poder. Dos três poderes. É estranha uma estrutura de poder sucumbir diante de figura tão banalizada como Lula e, de alguma forma, por falta de um posicionamento adequado, contribuir para a crise que grassa o país desde o início do segundo mandato da presidente, com os mais preocupantes prognósticos, e se empenhar em uma investigação que deve ser feita e bem feita, mas sem grandes reflexos no momento atual, enquanto que a comandada por Lula está contextualizada e seria uma oportunidade do poder contribuir para a melhoria do ânimo da sociedade brasileira, alvo de um jogo político voltado só para os interesses partidários e corporativos e ferida de morte, todos os dias, pelas notícias cabeludas que permeiam o sombrio cenário político e o jogo de cabo de guerra do governo, onde salvar-se é a única prioridade.
A cidadania é proselitismo constitucional. Mas a arrogância precede a queda. Com todo o poder e o tesouro nacional nas mãos, o mancebo não foi competente para reverter as tendências e o mago das falcatruas perdeu para o palhaço Tiririca, incluído entre os aliciados pelo governo e, no momento da votação, votou SIM e, no Palácio da Alvorada, assistindo as transmissões do impeachment com um grupo de confiança, deixou escapar, segundo a imprensa, um como pode? Eu falei com ele hoje? É isso aí amigos, entre mentiras e verdades, ídolos de ocasião e corruptos de sempre, a República segue sem rumo e sem responsáveis, afinal, durante mais de uma década o governo nunca soube de nada, nem da inevitável derrota na Câmara dos Deputados e da previsível derrota no Senado Federal e ficamos com a certeza de que a diferença entre Lula e Tiririca é que um é palhaço verdadeiro.
Adauto José de Carvalho Filho – AFRFB aposentado, pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, Consultor de Empresas, Escritor e poeta.