A INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA E OS CARROS BRASILEIROS: POUCAS NOTAS HISTÓRICAS E ALGUMAS OBSERVAÇÕES CRÍTICAS –
Há formas e formas de tentar recuperar elementos informativos visando a construção de páginas da história do automóvel brasileiro, desde os seus embriões mais toscos até os exemplares mais sofisticados da atualidade. Um desses caminhos é o resgate das primeiras montadoras, na verdade uma experiência de barateamento das importações de carros que rodavam em países europeus e na América do Norte, para o desfrute de uma elite que se endinheirava no campo (carne, leite, café e açúcar), mas que desejava fruir as benesses da modernidade que acenava lá de fora. Peças e artefatos mis chegavam encaixotados aos principais portos nacionais, capitaneados pelo de Santos, fazendo a via inversa dos produtos primários. Falo do lumiar do Século Vinte. 1919 um galpão da Ford cuidava disso no miolo da Pauliceia quase desvairada e em 1925, no bairro do Ipiranga, a General Motors engatou a primeira e botou para funcionar. Como a coisa deu certo, mercado florescente e filas de espera, bandearam-se para terreiros mais adequados à linha industrial, nos campos livres de São Bernardo. Assim foi até que os horrores da Segunda Guerra começaram a abafar os roncos do motores dos carrinhos e caminhões; troavam mais alto os canhões, minguando as importações dos componentes automotivos até cessar. Com o clarão de Hiroshima cegou-se a visão desenvolvimentista que se anunciava para esse ramo.
O Pós-Guerra foi difícil. A Europa arrasada e os Estados Unidos mais preocupados em ajudar os seus aliados do Velho Mundo, através de um grande plano de recuperação estrutural conduzido por George Marshal, sob o patrocínio do Presidente Truman. Esqueceram o engatinhante Brasil e, mais precisamente, o território que serviu de pivô-central para as suas vitórias do grande conflito universal: Natal, Rio Grande do Norte.
Sem insumos externos, as montadoras definharam e passaram a sonhar com uma linha nacional de produção de peças. Esse discurso colou na bandeira trabalhista que adornava a nova imagem de Vargas no seu retorno ao poder, pelas urnas, e foi providenciada uma série de embaraços à entrada no nosso país de veículos prontos e de peças. Colocou-se a “placa branca” em uma política de estímulo a esse setor, que foi implementada no governo seguinte, quando Juscelino delineou o Grupo Executivo da Indústria Automobilística. De então consolidou-se um polo de produção automotiva no entorno da capital paulista, sem sobras para as demais Regiões, o que só viria a ocorrer com uma iniciativa de pouco sucesso da Willys em Pernambuco, fim da década de sessenta e mais adiante com a Fiat em Minas; a Ford na Bahia; a Nissan, a Renault e a Volkswagen no Paraná; a Mitsubishi, a Suzuki e a Hyundai em Goiás; a BMW em Santa Catarina; a Chevrolet no Rio Grande do Sul; a Citröen e a Peugeot no Rio; Fiat/Jeep em Pernambuco e a Mahindra no Amazonas.
Mesmo a título de exemplificação, vê-se que a distribuição desse importante vetor de desenvolvimento econômico não favorece o Brasil na metade superior do território, pouco aquinhoado com essas fábricas indutoras de progresso, embora disponha de fartura de mão de obra lapidável em poucos anos, além de boa localização geográfica para facilitar a logística de distribuição e de exportação.
Um impulso oficial, através de estímulos fiscais e outros mecanismos de correção de desigualdades regionais, aliado a uma pitada de ousadia empresarial, pode redesenhar mais positivamente esse mapa.
Ivan Lira de Carvalho – Professor da UFRN e Juiz Federal
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Acabei de ler. Muito bom. Publiquei o link. Perdi o amigo Pedro Freire, de Campina Grande, no mês passado, ele que exerceu dois mandatos consecutivos como presidente da Associação Nacional de Revendedores Honda.
Ouvi dele, algumas vezes, referências sobre ponto de exaustão do mercado automobilístico no mundo. Através de Pedro tive acesso a pesquisas muito acuradas feitas pela Honda, usando o Brasil como campo amostral, nas quais os japoneses detetaram que o automóvel está em curva de declínio enquanto objeto de desejo de consumo no Brasil. Também vem deixando de ser signo de afirmação sócio econômica. Achei interessante. Neste particular entendo que avançamos. Somos um país eminentemente rodoviário. Se passarmos a prestigiar melhor o transporte público de qualidade, primordialmente ferroviário, tornaremos as cidades mais humanas e suportáveis. Ademais, deixaremos de sofrer a chantagem das grandes montadoras em suas ameaças permanentes de desempregar em massa, para extorquir incentivos fiscais do governo.
O seu texto faz uma importante revisão sobre a história da indústria automobilística nacional. Fala de um tempo que todos os meninos conheciam as marcas e tipos de carro. Uma infinidade, Rural, Jeep e Caminhão. Caminhão da(Fábrica Nacional de Motores), o popular Fenemê.