LÁ DO SERTÃO, LÁ DO MOXOTÓ –
Os frutos da benquerença nem sempre se apresentam em cores ou sabores conhecidos; muito menos em aromas esperados. Brotam da espontaneidade dos gestos, do trocar de experiências, da afinidade de gostos; do proposital estremamento de idades cronologicamente afastadas, justamente para trazê-las para mais perto, amarradas com as embiras da afeição. De tudo isso tenho certeza.
O anúncio da minha ida é feito da maneira mais primária – pelo recado – que sei quão será bem acolhido. Dali a duas semanas… três. Dá-se conta que eu deixarei o burburinho da capital para singrar a espinha dorsal do Leão Norte, trocando os Altos Coqueiros pelas vegetações mais planas, pelas paisagens mais variantes: cana de açúcar ali, pradaria para pasto de gado acolá, serras frias com pomares adiante, caatinga arbustiva ao depois.
Vem o dia. Engole-me a estrada, enquanto eu penso que a devoro. Engana-me e não te engano, é essa a tirada.
O corte raso do voo de uma asa branca, ave bonita e de plumagem emblemática, é o sinal de que a jornada de transporte chegou ao fim. O universo ali é outro, mas é o perseguido, o desejado. O sertão se põe pleno, em oferta ao viajante, ainda que diferentes sejam os climas do local da partida e o podium da chegada. Sinto-me um troféu do tempo; uma insígnia da travessia.
Avassala-me as narinas o ar quente que campeia o Moxotó, furtando os seu fluidos do leito seco do rio homônimo e do que escorre das serras que bordejam a região, em aliança com Alagoas, querendo espiar a Bahia.
Vem o meu amigo. Traz-me doce de frutas silvestres que ele mesmo colheu, infundiu e cozeu com mocotó de boi. Traz também canções mouras, soltas em notas de duplas de violeiros. E, em arremate, histórias. Muitas histórias… Ele a maior e mais presente delas.
Diz-me do ano em que nasceu – 1924 – a título de provocação para ver até onde as gerações se encontram e porque se encontram. Diz-me das cabras rústicas e das mais seletas; das novas raças e das que apurou em cruzamentos a invejar biólogos. Assunta a chuva, mas não faz muita conta disso, pois aprendeu a conviver com a seca e sabe dar o destino certo para cada fatia de chão que amealhou com o trabalho. Não briga com a natureza; namora-a; desposa-a. Reclama dos males que a algaroba traz para o solo da caatinga – “chupa toda a água para si” – embora lhe reconheça as virtudes do sombreamento. Diz que essa planta, de origem peruana, foi introduzida na região por esforço do então deputado federal Milvernes Cruz Lima, agrônomo.
Das boiadas. De primeiro só brabos, criados soltos no mato e recolhidos, em idade adulta, através de pegas feitas por homens encourados. Depois vieram os mais finos, de sangue apurado, tangidos desde Minas Gerais em grandes comitivas, cujos chefes negociavam umas “sementes” por onde seguiam, em demanda final para Paraíba e Rio Grande do Norte. Guzerá, Indubrasil, Nelore passaram a ser palavras conhecidas do matuto local.
Lembra que tem o mesmo nome do meu bisavô, do meu trisavô e do meu filho caçula: Vicente, vicentes, vencedores. Encerra a conversa. Por hoje.
Ivan Lira de Carvalho – Juiz Federal e Professor da UFRN
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Excelente! De uma percepção e de sentimentos regionais apurados!!