VADE RETRO, CANDIDATO! –
Tenho dó de quem pretende candidatar-se a prefeito ou a vereador no pleito deste ano, porque será uma tarefa árdua consolidar sua eleição.
Parto da premissa de que os partidos políticos são as organizações menos confiáveis na opinião do brasileiro. As siglas partidárias encabeçam a lista das instituições desacreditadas, seguidas do Congresso Nacional, da Presidência da República e dos ministérios. Foi o que apontou pesquisa do Instituto Datafolha realizada em junho do ano passado. Um cenário, certamente inalterado, porque desde então nada de positivo ocorreu para provocar uma avaliação diferente da anterior.
Neste momento leva a pior o candidato bem intencionado, probo e de ficha limpa, pois será nivelado por baixo e considerado farinha de um mesmo saco. Não tem como evitar a comparação, já que faltarão aos eleitores os parâmetros de confiabilidade necessários para separar o joio do trigo.
A constatação de que 2 em cada 10 deputados, na Câmara, e 4 em cada 10 membros do Senado serem réus em ações que aguardam julgamento no Supremo, causa um impacto devastador no eleitor desesperançado de qualquer melhoria no panorama político nacional. Percebe-se que a atratividade pela política partidária está a minguar devido a desmandos cometidos por membros da classe.
Para dificultar a campanha, na eleição de 2016 estará ausente a contribuição financeira empresarial. O candidato contará tão somente com os recursos próprios e com o financiamento individual de seus apoiadores – se já era difícil arrecadar dinheiro em tempo de vacas gordas, imagine agora em época de recessão.
A todo esse descalabro se soma a recusa de homens de bem a emprestar seus nomes a siglas desacreditadas. No imaginário popular, somente arrisca uma candidatura o indivíduo cujo desejo seja auferir vantagem pessoal ou aquele aproveitador de ocasião na ânsia de locupletação. Mesmo diante de estágio tão adverso, muitos dos edis, prefeitos e vice-prefeitos, no exercício de seus mandatos, tentarão a reeleição. Nessa disputa postar-se-ão 485.889 candidatos para a avaliação de 144.888.192 eleitores.
Iniciada a tal propaganda eleitoral autorizada – diga-se de passagem, uma chatice abominável de 20 minutos diários, durante 35 dias contados a partir de 26 de agosto último -, certamente aparecerão os candidatos “de brincadeira”. Tipos como “Cacareco” e “Macaco Tião”, de antigamente, ou os “Tiririca”, da atualidade, farão a hilaridade da campanha.
Isso sem falar na possibilidade de surgir um novo cacique Juruna – primeiro e único deputado indígena do Brasil -, de gravador em punho “para registrar tudo que o branco diz”. Esses, sim, levarão vantagem sobre os demais candidatos por representarem a insatisfação popular contra a política partidária vigente.
Vade retro, candidato! (Afasta-te, candidato!) Será o grito de repúdio, tanto inaudível quanto eloquente, que o corajoso ou desventurado aspirante a cargo eletivo enfrentará numa luta inglória de resultado imprevisível.
Foi-se o tempo em que eu observava meu avô Francisco Carneiro, getulista doente, vestir em dia de eleição o seu terno de linho branco e proteger a cabeça com um chapéu Ramenzoni para, estourando de empáfia, responder a quem perguntasse por seu candidato: “Eu não voto em candidato, eu voto em partido!”.
Sim, eleitor, houve um tempo em que confiávamos nos partidos!
José Narcelio Marques Sousa é engenheiro civil – [email protected]