JOSÉ NARCELIO

PEDRO I: VILÃO OU HERÓI BRASILEIRO? – 

Li, recentemente, excelente artigo do engenheiro Tomaz Edson Pereira Guimarães intitulado “O maior herói brasileiro”. O colega é viciado em história das nações, e foi essa paixão que o fez visitar a Casa Rosada, em Buenos Aires.

Ali, segundo ele, existe um salão dedicado a heróis de países sul-americanos. No panteão, a Argentina está representada por José de San Martín; a Venezuela, por Simon Bolívar; e, o Brasil, por Tiradentes e Getúlio Vargas. Daí surgiu o questionamento que ensejou sua matéria: de quais batalhas, em prol da independência do país, participaram os citados “heróis brasileiros”?

Em sua pesquisa ele se fixou em dois nomes para melhor representar nosso país naquele salão da Casa Rosada: João Fernandes Vieira e Pedro I. Ambos foram portugueses não republicanos que adotaram o Brasil como pátria. Fernandes Vieira, na opinião do articulista, tornou-se herói ao nos libertar do jugo holandês, em 1645, derrotando compatriotas de Maurício de Nassau na batalha do Monte das Tabocas, no agreste pernambucano.

Quanto a Dom Pedro I, Tomaz Edson não se estendeu nas razões para designá-lo como um herói nacional. Esse vácuo eu tento aqui preenchê-lo, no mês das comemorações de nossa Independência.

Dom Pedro de Orleans e Bragança foi um homem público contraditório. Há gerações, suas façanhas, incoerências e deslizes intrigam e encantam brasileiros. Teve uma vida privada tempestuosa – morreu aos 35 anos de idade -, emoldurada por uma personalidade romântica, comovente e revoltante. Segundo Laurentino Gomes, autor do livro 1822, Dom Pedro se presta a narrativas romanescas.

A imagem e a reputação de Dom Pedro I estão sujeitas a diferentes interpretações condizentes com as turbulências da história do Brasil. Foi um marido cruel porque causou um aborto e a consequente morte de sua esposa, a imperatriz Leopoldina; um adúltero, libertino e não seletivo por reconhecer mais de 50 filhos de suas amantes; e, um homem inteligente e sensível ao compor letras para hinos e missas. Pelos ideólogos da república, Pedro I foi o maior vilão da monarquia porque abandonou o Brasil atendendo a apelo de Portugal para assumir o trono do país.

Todavia, não fosse a sua coragem ao cortar os laços umbilicais com o além-mar, nosso futuro seria incerto. Talvez nos tornássemos uma república como a maioria dos países sul-americanos. A questão é definir a que custo isso ocorreria.

Destemido e contraditório ele marcou a história de dois continentes. Após declarar a independência do Brasil, em 1822, rumou para a Europa para lutar e instaurar a monarquia constitucional em Portugal, como Pedro IV.

Dom Pedro II, seu filho, nascido brasileiro, lutou e trabalhou bastante pelo país, mas, sem o carisma do pai, não obteve o merecido reconhecimento do povo. Enxotado da nação, não a renegou e viveu seus últimos dias de vida, exilado na França.

Por outro lado, coube ao imprevisível filho de João VI o ato de desmedida ou impensada coragem, de arrancar o Brasil da influência portuguesa facilitando a proclamação da República, numa atitude semelhante às de Simon Bolívar e San Martín ao libertarem do jugo europeu inúmeros países do continente.

Pedro I é venerado como herói nacional no país onde nasceu como Pedro IV. Seu coração está guardado na cidade do Porto, em Portugal, mas seu corpo foi trasladado para o Brasil, no sesquicentenário da Independência. Na minha concepção, ele, sim, deve ostentar o merecido título de verdadeiro herói brasileiro.

José Narcelio Marques Sousa  – é engenheiro civil – [email protected]

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