NOSSAS LOUCAS MANIAS –
Não sei se está enquadrado em mania ou doença, o desejo compulsivo de esbanjarmos dinheiro para nos assemelharmos a astros e estrelas do cinema, da televisão ou a destaques do mundo esportivo. Também não sei se tratar de mania ou doença, o indivíduo acumular centenas de um mesmo tipo de objeto dentro de um ambiente restrito, sacrificando seus espaço e bem-estar, sem qualquer finalidade mercantil.
É difícil distinguir entre mania ou doença quem dedica a existência inteira montando coleções com o fito de alimentar o ego, direcionando afeição desmesurada para o objeto da mania, e se reservando do exclusivo direito de usufruto. Mas como existem engolidores de fogo, domadores de tubarões e surfistas do espaço, é natural que aceitemos, mesmo questionando, pessoas portadoras de atitudes ou manias, digamos, um tanto excêntricas.
Vejamos se eu tenho ou não razão: que uso fará aquele comprador que adquiriu em leilão, por milhares de dólares, o lençol utilizado na noite de núpcias de Madonna e Sean Penn? Por acaso ele se enrolará no tecido pensando ser o ator americano enlaçando a pop star famosa? Ou servirá apenas para colocar a peça contra a luz, a fim de lhe despertar a libido, procurando marcas reveladoras de momentos de prazer do casal protagonista de um casamento relâmpago?
É sabido existirem manias voltadas para distúrbios comportamentais como aquela do conhecido cantor brega, que se ufanava de possuir gavetas repletas de calcinhas femininas, atiradas pelas fãs nos palcos em que se apresentava no auge de sua fama. Mas, o que pensar de quem garimpa e cataloga tudo o que se refere ao seu ídolo, numa ânsia ilógica, comprometendo a própria identidade? Ah! Loucas manias capazes de nos induzir a atitudes inaceitáveis sob a ótica da racionalidade.
Li, em algum lugar, sob o título “Leilão de objetos de gente famosa”, que um homem de Hong Kong adquiriu por U$ 4,3 mil um chumaço de cabelo de John Lennon; que o manuscrito da música “All you Need is Love”, escrita pelos Beatles, foi leiloado por R$ 2,5 milhões em 2005; e, que o violão de George Harrison – um dos membros do mesmo conjunto famoso -, com o qual o artista aprendeu a tocar foi vendido em 2003, por U$ 300 mil. Soube também, na mesma leitura, que arremataram Wilson – nome dado à bola que aparece no filme Náufrago – por U$ 18,4 mil.
Todavia, me estarreceu o fato de o penico utilizado por Napoleão ter sido leiloado, em maio de 2005, com lance inicial de mil dólares. Impossível esse fato passar despercebido sem cá eu fazer meus questionamentos.
O que danado esse bendito comprador vai fazer com o penico de Napoleão? Vai expô-lo na sala de visitas da casa como um troféu irrefutável dos embates intestinais do imperador corso? Quem sabe utilizará o utensílio de alcova para ele mesmo se imaginar tão poderoso quanto o general de tantas vitórias, e tentar ganhar sua guerra particular contra os desarranjos oriundos de suas necessidades fisiológicas?
Com tamanha preciosidade em mãos, o comprador do penico de Napoleão poderá ainda se deleitar antevendo o famoso ex-proprietário acocorado majestosamente na peça, engendrando alguma estratégia para o dia seguinte, quando evacuará o exército inimigo de posições estratégicas na batalha a ser travada.
O certo é que o livre arbítrio nos permite explorar manias inaceitáveis para uns e de naturalidade estrondosa para outros… Até mesmo colecionar penicos.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – [email protected]