REPENSANDO NOSSO TEMPO –
A conversa de hoje é uma reflexão em defesa da nossa jovem Democracia, duramente conquistada; uma espécie de alerta sobre um fenômeno político ainda em gestação aqui no patropi, mas com raízes já fincadas em alguns países da América Latina: o surgimento de uma nova Autocracia. Vejamos.
Estamos assistindo o alvorecer de uma nova era política em terras crioulas.
Com a mundialização da economia, com a crise na União Europeia, com o enfraquecimento do Mercosul, com novo governo federal à vista, necessariamente, teremos uma nova realidade política em toda América Latina e Caribe, como de resto em todo o planeta.
Todavia, o impeachment presidencial é necessário, mas não é suficiente.
Nossos governantes e parlamentares, assim como, todos os homens de boa vontade, estão obrigados a repensar o nosso tempo. Como já tive oportunidade de lembrar aqui, o sucesso de rótulos como “pós-moderno” e “pós-industrial” evidenciam a incapacidade de os nossos dirigentes e intelectuais pensarem a partir do nosso próprio tempo.
Temos tentado pensar a partir do que já foi, e já não é mais.
Como se não bastasse, é lamentável a palpável cooptação de muitos outrora importantes movimentos sociais (como o sindical, o de mulheres e o de estudantes, por exemplo). É igualmente preocupante a despolitização das novas gerações, às voltas com um individualismo estéril, terreno fértil e perigoso para as manipulações. E somente os dinossauros ainda não perceberam a força descomunal da internet, revelando inusitadas formas de comunicação social.
Ninguém está preparado ainda para lidar com essa novíssima realidade. Trata-se de uma série de especificidades, eivada de ambiguidades, tecendo redes complexas e fragmentadas de conceitos e paradigmas, as quais vão se redefinindo, por sua vez, junto a cada movimento do real, a uma velocidade alucinante.
É uma espécie de entrelaçamento de novas reflexões que envolvem a arte, a cultura, a pedagogia, a tecnologia, a política, a economia, a produção de conhecimento, a internet e, como não poderia deixar de ser, os pressupostos filosóficos. Há um silêncio ensurdecedor da “intelligentsia” sobre o nosso tempo.
Acredito que o próprio papel de intelectual está igualmente se redefinindo, da mesma forma que cabe o questionamento dos conceitos do que antes se entendia como sendo “esquerda” e “direita”.
Não se trata, é bom que fique claro, de afirmar o fim da história. Muito pelo contrário.
Trata-se, mais do que nunca, de reencontrar um Novo Iluminismo, como continuidade do processo histórico, das manifestações do novíssimo fazer humano.
Esta reflexão tem a influência direta das minhas releituras, notadamente de um dos livros de Cornelius Castoriadis, filósofo francês (Encruzilhada do Labirinto), a partir do qual ousei intitular este texto.
O cenário atual do patropi é composto por partidos fracos e sem novas lideranças, Congresso desmoralizado, corrupção endêmica, sindicalistas que viraram banqueiros, fundos de pensão (milionários) atraindo sócios privados privilegiados. Ressalte-se que, no Brasil, os fundos de pensão não são apenas acionistas – com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas são gestores que controlam os conselhos de grandes empresas. Uma baita fonte de corrupção.
O fato é que – devagarinho, o vírus da Autocracia minou o espírito da nossa Democracia constitucional; a qual pressupõe regras, informação, participação, transparência, representação, deliberação consciente e controle social. Nada disso existe em nossa República Surrealista dos Trópicos (Mestre Walter, sua bênção!)
Em verdade, continuamos a ser uma República sem povo.
Trata-se de um processo de desmoralização das instituições, combinada com o incessante culto à personalidade, a um só tempo autoritário e popular. Uma espécie de “fulanização” da política.
A meu ver, o Brasil vivenciava com o PT (e ainda corre o risco) um processo de criação de um novo e duradouro bloco de controle da máquina estatal, capaz de se manter por algumas décadas. (Aliás, este sempre foi o projeto do PT: conquistar o poder e governar para transformar, autocraticamente, o Brasil numa “potência” bolivariana.
Por trás desse “imbróglio” gigantesco, há toda uma camada de valores a ser estudada pelos analistas sociais. Com um problema: seu estamento intelectual – e aí se incluem os políticos – não pensa como a maioria do povo. Pior: nem sabe como essa maioria pensa.
E não adianta maldizer a realidade. Ela não deixará de ser real por isso. Estes são os fatos!
Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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