MARAS: CRIME DESORGANIZADO –
Dedico este texto ao olhar triste das crianças de rua e à juventude em perigo, perdida e sem rumo, frutos desta sociedade suicida em que vivemos.
O fato de o Brasil ter sido declarado pela ONU como o pais das Américas com a distribuição menos eqüitativa de sua riqueza, é dramaticamente expressado nos milhões de crianças brasileiras sem possibilidades de um desenvolvimento humano digno.
A conversa de hoje será sobre a proliferação de gangues de jovens que assolam populações inteiras com violência. Elas pululam onipresentes nas periferias urbanas de vários países, sempre com as mesmas características. São as Maras.
A socióloga Maria L. Santacruz Giralt, do Instituto Universitário de Opinião Pública (IUDOP), de El Salvador, explica: “A violência das Maras é fundamentalmente orientada para a destruição daqueles que ela considera inimigos: jovens de condições sociais e econômicas muito semelhantes, que somente se diferenciam pelo fato de pertencerem ao grupo rival”.
O conflito é totalmente irracional, sem o menor argumento racial, religioso ou ideológico, mas ainda mais irredutível porque, aos olhos de seus membros, fundamenta em grande parte a legitimidade do bando. Trata-se de jovens extremamente incapazes de imaginar um futuro qualquer para atingir qualquer nível de organização. São organizados apenas para furtar e prontos para agredir e matar se necessário, movidos apenas pelo instinto; gerando pânico na população.
É o crime desorganizado. É o prototerrorismo, fonte generosa de quadros para o narcotráfico.
Ostensivamente presentes nos bairros populares e na periferia de grandes cidades, onde seus grafites cobrem os muros, as Maras agem também nas principais cidades do Brasil. A maior concentração talvez seja em São Paulo e Rio. Mas, Salvador e Recife já disputam o primeiro lugar.
Esses grupos têm geralmente entre trinta e sessenta membros, dos quais 63,7% têm entre 16 e 21 anos e 17,3% são garotas. São centenas de grupos, distribuídos por bairros ou favelas, com total autonomia de ação.
São meninos e meninas muito pobres que não têm outra coisa para partilhar a não ser sua miséria, lato sensu. Baseiam sua existência exclusivamente na pobreza absoluta, desemprego, ausência de educação e de valores morais.
A tendência é construir mais presídios que escolas. Já estamos destruindo escolas…
Realimentando o processo, o desemprego não pára de crescer e um processo de pauperização acelerada afeta a maioria das camadas sociais e tem um impacto dramático sobre o núcleo familiar, deixando jovens sem futuro e entregues a si próprios.
Cerca de 18% dos jovens brasileiros estão fora da escola, informa a OIT. Nem estudam, nem trabalham.
Na população das periferias urbanas, e principalmente entre os mais jovens, prevalece um sentimento de impotência e de ausência de alternativa política, que contribui para fazer da vida na Mara a única escapatória. Dizem:“A “Mara” é minha família, sua marca tatuada em meu corpo me liga a ela para toda vida”.
Com suas origens históricas localizadas em Los Angeles, Califórnia (EUA), esse fenômeno atravessa fronteiras e, além do Brasil, já se faz presente como se fora uma nova geografia da violência em El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá, estendendo-se já ao México e a Colômbia.
Essas informações nos levam a assuntar que, com a modernidade, o mundo tem gerado mais riqueza e mudado para melhor. Todavia, paradoxalmente, para as crianças pobres pouco tem mudado. Para os meninos e meninas pobres que fazem da rua sua morada, e das atividades ilegais sua forma de sobrevivência a situação é ainda cada vez pior.
A violência dos adolescentes infratores de hoje tende a ser ainda maior porque se sentem miseráveis num mundo cheio de riqueza, opulência e possibilidades. Sua rebelião, é maior, mais arraigada, mais profunda, e atrai a um número cada vez maior de excluídos.
As Maras nada mais são do que respostas desesperadas de seres humanos embrutecidos, sem qualquer perspectiva de futuro, a uma injustiça estrutural, sistêmica, corrupta e desumana. O que fazer?
Uma boa pergunta para o (e)leitor fazer à sua consciência, nas eleições deste ano, na hora de votar.
Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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