Escolhas difíceis –
O homem contemporâneo conquistou grande número de direitos, impensáveis para sociedades anteriores. Era comum aos governantes realizarem suas vontades e disporem de seus súditos como bem entendessem.
É exatamente o desvirtuamento das políticas por algum “déspota” que pode pôr em perigo as conquistas populares, ainda bem recentes. Na Democracia, a alternância de Poder é imprescindível para que novos métodos políticos e administrativos sejam introduzidos.
É vazia a sugestão de que a permanência por mandatos seguidos seria reconhecimento por obra feita e uma necessidade de continuidade das políticas implantadas. Governos bem avaliados podem fazer sucessores na mesma linha de ação sem o risco do personalismo da continuidade no Poder.
A Democracia não é perfeita, nem é o processo mais rápido. São necessárias muitas décadas para que mudanças concretas sejam operadas, e geralmente, as vantagens destas mudanças não são percebidas por todos.
Outra maneira de frustrar a verdadeira alternância é o próprio governo desistir de seu programa de mudanças no meio do caminho. Tal como vivenciamos com o governo Dilma, que se reelegeu mentindo.
Recentemente, o jornal O Estado de São Paulo, em seu editorial, relembrou:
“Decisões governamentais, especialmente aquelas adotadas em períodos de crise, são necessariamente políticas, mas sua pertinência e eficácia estarão condicionadas à observância de fundamentos da boa prática econômica, pela razão óbvia e inelutável de que, sem esses fundamentos, um país não alcança seu potencial de desenvolvimento.
Ignorar princípios econômicos para alimentar seus projetos de poder foi a irresponsável inversão de valores que o lulopetismo cometeu com sua voluntariosa “nova matriz econômica”.
O resultado dessa aventura é a profunda crise em que o País está mergulhado. Para os defensores da tal “nova matriz”, a justiça social é apenas questão de vontade política.
Mas vontade política, por si só, não cria riqueza.
Até há pouco o lulopetismo conseguia vender a ilusão de que o Estado pode “distribuir” riqueza antes de oferecer as condições para que ela seja criada. Hoje o País paga o preço dessa mistificação eleitoreira”.
O grande desafio político de Michel Temer é, arrostando interesses pessoais ou políticos de muitos que se apresentam como seus aliados mais próximos, assumir as medidas impopulares, mas indispensáveis ao saneamento financeiro do aparato estatal. São medidas que, além de permitir a compatibilização de despesas e receitas num prazo previsível, promovam a cuidadosa reestruturação dos institutos que disciplinam as despesas governamentais, para evitar seu descontrole mais à frente. Não deve brigar com os fatos.
A propósito, a meta mais ambiciosa de um governo democrático não pode ser a de criar, manter e ampliar indefinidamente programas sociais, mas de trabalhar para que eles um dia se tornem desnecessários.
Nossa tradição de mudanças sempre foi feita de cima pra baixo. A Independência foi um destes casos. A Proclamação da República segue o mesmo padrão, onde a participação popular foi nula.
Atualmente, com um cenário herdado de corrupção sistêmica, alta de juros, dólar e inflação nas alturas, desemprego crescente, famílias endividadas, insatisfação popular crescente, greves de diversas categorias profissionais, vácuo de liderança, ausência de governabilidade, e investidores fugindo do Brasil; com o fortalecimento dos movimentos de rua convocados pelas redes sociais; a alternância de Poder está na Ordem do Dia. O patropi vivencia momentos de escolhas difíceis, mas indispensáveis.
Antes de melhorar, ainda vai piorar um pouquinho. Quando melhorar, todos já terão esquecido as cotas e as bolsas da “nova matriz econômica” do PT governo, ninguém mais lembrará do lulo-dilmismo.
Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores