Liguem o alerta máximo! –
Antes de começar, quero declarar publicamente que sou um otimista incurável em relação ao futuro, continuo acreditando que, certamente, algum dia, encontraremos todos a Estrela da Manhã.
Pois bem. Alguns amigos pediram para que eu tentasse explicar as causas dessa onda de violência que está assolando os grandes centros brasileiros, notadamente, a partir do sistema penitenciário, via comando do crime organizado.
Com a consciência de que não sou proprietário da verdade, e que a questão é bastante complexa, peço licença para iniciar apontando alguns dados recentes sobre a nossa juventude.
Estudo do IPEA aponta na direção da responsabilidade de todos nós para com o nosso futuro. Um estudo feito por uma equipe do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostra que o Brasil tem 14 milhões de jovens com renda familiar abaixo de meio-salário mínimo, o que significa 30% da população entre 15 e 24 anos. Eles representam 48% (quarenta e oito) por cento da população – acima de 14 anos – que está sem emprego, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (Pnad).
O trabalho revela também que cerca de 56.000 pessoas são assassinadas no Brasil, a cada ano. Destas, 30.000 são jovens entre 15 a 24 anos e, desse total, 77% são negros. 30 mil jovens não completam o 25° aniversário, a cada ano, no Brasil. Vítimas da violência. Uma calamidade!
Que estranho país é esse?
Desemprego, pobreza e violência estão associadas à trajetória dos jovens brasileiros há muito tempo. Muito mais do que se poderia suportar. A falta de trabalho decente está levando milhões de jovens à frustração, o que, em alguns casos, tem contribuído para a turbulência social.
O mais estranho é constatar que nossas elites não investem com prioridade em Educação e Segurança pública, com ações preventivas. O orçamento contingenciado para as áreas sociais insiste, inexplicavelmente, em medidas pontuais, com ênfase na repressão, com a compra inútil de mais armas e mais veículos.
São 40 milhões de jovens entre 15 e 24 anos, segundo o levantamento do IBGE/PNAD, dos quais 8 milhões de moças e moços, não estuda, nem trabalha, nem procura emprego. Esta é uma tendência crescente. É o esmagamento do futuro. Somos uma sociedade suicida.
A constatação é tanto mais grave quando sabemos que esse desemprego é estrutural, ou seja, é resultado do avanço tecnológico das forças produtivas. Quanto mais moderna a empresa, menos absorve força de trabalho.
É expressivo e rápido o crescimento da proporção dos jovens que não estuda, nem trabalha. São milhões de jovens em crise existencial, sem qualquer perspectiva profissional. Um pesadelo!
Sem fazer a profecia do caos, torço para que essa onda de violência aguda possua força e capacidade para tirar o governo e a sociedade do imobilismo, e entenda de uma vez por todas que construir escolas é investimento, e construir cadeias é desperdício.
Crises agudas costumam criar oportunidades, abrindo janelas para processos de ruptura. É urgente e indispensável iniciar o rompimento com a realidade vivida até este momento. É preciso romper com o passado.
Num plano mais geral e abstrato, trata-se de determinar qual o peso que a sociedade deve atribuir à exigência de inserção social, com garantia de estudo, trabalho e renda, para os muitos milhões de jovens brasileiros. Qual o destino deles, que perspectivas podem ter e, sobretudo, de que maneira eles se relacionam com a construção de um Projeto de Nação.
Alerto: está armado um cenário propício à desordem social. Liguem o alerta máximo!
Mantida a inércia em termos de políticas para a Juventude, e frente à capitulação da nossa sociedade civil, essas “escaramuças” (roubos de celulares, arrastões, brigas de gangues e de torcidas), a que estamos somente assistindo, vão parecer brincadeira de criança frente à ira santa das massas urbanas periféricas, famélicas e marginalizadas; cuja caldeira já está bastante aquecida. Serão milhões de desesperados, sem controle.
Oxalá a crise em que estamos imersos nos ajude a repensar o Brasil, no rumo da cidadania.
Caso contrário, terá sido a negação da luta de toda uma geração.
Ou não. Talvez seja o começo de tudo.
Rinaldo Barros – É professor – [email protected]