RETALHOS DO FOLCLORE POLÍTICO II –
01) Esta me foi narrada, há alguns anos, pelo tabelião Raimundo Barros Cavalcante. No início dos anos cinquenta, a prefeitura possuía o mais moderno (para o seu tempo) e bem equipado serviço de som externo, denominado “Amplificadora Municipal, a Voz de Macaíba”. O seu estúdio funcionava numa dependência do Mercado Público, no centro, que irradiava para dez altofalantes instalados em pontos diferentes da cidade. E lá estava o nosso herói, Zé Pirififiu, no estúdio, protegido por uma imensa parece de vidro, fazendo o seu duplo trabalho de locução e técnica de som, às voltas com pilhas de discos 78 rotações. Como todo artista provinciano, Zé tinha o seu fã-clube. A mais “atacada” fã ultrapassou a barreira do som, para todas as noites poder paquerar com o seu “Sérgio Chapelin”. No entanto, alguém resolveu colocar pimenta no prato do Pirififiu, contando tudo a sua mulher. Certa noite, quando o locutor apresentava o “musical variado” e ligava o microfone para dar o prefixo, de repente, surgem no estúdio, as duas mulheres aos gritos, trocando seletos e sonoros palavrões. Neutralizado pelo impacto da cena, Pirififiu esquecendo de desligar o microfone, jogou-se entre as duas rogando calma, mas apanhando ao mesmo tempo. Ao cabo de três minutos, quase toda a cidade estava postada de frente ao recinto, a tudo ouvindo e assistindo pela parede de vidro. O nosso sofrido personagem, ao perceber a multidão, correu para o microfone e sentenciou: “E assim, acabamos de ouvir, em cadeia com a Rádio Poti de Natal, mais um eletrizante capítulo da novela “O Direito de Nascer”. Boa noite!”.
02) Corria o ano de 1988. Tratava-se a eleição municipal. De um lado, Mônica Nóbrega Dantas, com o meu apoio político. No auge da campanha fomos fazer um comício no Distrito de Traíras, cuja comunidade era refratária ao PMDB. Ali, eu estava ansioso, pois desejava que a minha candidata tivesse uma boa performance. Mônica havia caprichado no seu discurso e no seu penteado, com bastante laquê, para parecer jovem ao exigente eleitorado. Nisso cai uma chuva inesperada. Ao revelar, de repente, o cuidado com a minha candidata, constatei que a chuva derretera o seu penteado, oferecendo à mostra sinais de sua calvície geriátrica. Como um raio, coloquei um boné em sua cabeça e argumentei sob o olhar assustado de Mônica: “Prefeita, o povo daqui só gosta de candidata de chapéu!!!”.
03) Pedro Luiz de Araújo, o famoso Mestre Pedro das tiradas espirituosas e jocosas, comparece hoje com mais uma estória do seu rico folclore. No período eleitoral, a política macaibense fica densa, tensa e intensa. Nos idos de 1970, Mestre Pedro era vereador e desenvolvia oposição cerrada ao então prefeito. Discursando na câmara contra os gastos excessivos da prefeitura e procurando atingir o prefeito e o tesoureiro, Mestre Pedro saiu-se, na tribuna, com esta frase lapidar: “Dois piriquitos numa quenga não tem mio que chegue!!!”.
04) Por último, me ocorreu a do batizado do filho do preto e fanático aluizista João Curador. Corriam os anos sessenta. Aluízio Alves era governador a quem o padre Alcides não via com bons olhos. O batizado foi marcado para as 17 horas. Igreja cheia. Aluízio no auge. A família de João Curador toda vestida de verde. O menino, que se chamava Aluízio, vestia enxoval verde, toca verde, bubu verde, sapatinhos verdes, tudo verde. Aluízio deu uma maçada de duas horas, para desagrado e irritação do padre Alcides. Quando o governador chegou, de repente, todos se reuniram em volta da pia batismal e aí o padre Alcides, possesso, se referindo à criança, soltou aquele seu vozeirão: “Tragam o gafanhoto!!!”.
Valério Mesquita – Escritor – [email protected]
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