O PAPA CELESTINO V –

(1215 – Sant’ Angelo Limosano, Itália –   1296 – Ferentino, Itália)

Havia na Itália, um pobre camponês que tinha doze filhos, dos quais o undécimo, chamado Pedro (Pietro Angelere), era um jovem pacífico, que gostava mais de se dedicar ao estudo da Bíblia e da natureza do que às brincadeiras e aventuras a que seus irmãos se dedicavam. Aos vinte anos de idade, disse aos pais que desejava entrar num convento e se tornar monge. Os pais concordaram com o seu desejo e deram-lhe a bênção. Pedro partiu  e se internou em um convento, onde permaneceu durante cinco anos, completamente afastado do mundo.

Passado esse tempo, seguiu para as montanhas da Apullia, onde, no silêncio e na grandeza duma floresta virgem, começou a viver como eremita. A ele se juntaram algumas almas piedosas e contemplativas. Pedro não estava fugindo das tristezas e dores do mundo. Acreditava que a oração era o melhor alívio para os trabalhos do homem e retirava-se do mundo, porque acreditava que o eremita poderia rezar com maior fervor do que a pessoa que tem o pensamento absorvido pelas preocupações e afazeres da vida quotidiana.

Pedro de “Murrone” (nome da floresta), viveu nesse isolamento até atingir uma idade avançada. Os seus discípulos gostavam de se sentar em sua volta e ouvir as suas palavras, impregnadas  do amor divino. Sentiam-se como se estivessem diante de um emissário de Deus. Para eles, a terra era um sonho, que desapareceria rapidamente, e em seu lugar viriam inúmeras regiões, com anjos resplandecentes. Fundou uma congregação de monges, que receberam o nome de Celestinos.

Pedro era um homem simples e piedoso, e parecia ser um verdadeiro santo.  Já velho, estando um dia sentado na sua cela da montanha, meditando sobre as coisas divinas, apareceram-lhe os Cardeais e grandes dignatários da Igreja e pediram-lhe que fosse com eles para se sentar no trono pontifical. Convidaram-no para ser Papa. Aquele pedido causou a Pedro mais horror do que surpresa.  Ser Papa?!!!  Ele, pobre eremitão, cabeça visível de Deus na terra?!!! Só em pensar, estremecia.

Temia não ser bastante piedoso nem puro. Mas vieram à sua gruta mais personagens; barões, prelados, estadistas, e dois poderosos reis que se ajoelharam aos seus pés e lhe pediram que aceitasse ser Papa: “Vinde”, disseram-lhe eles, “a fama da vossa santa vida estendeu-se pelo mundo. Todos vos desejam como Papa, e se com isso concordares, reinará a paz para todas as nações. A escolha de um desconhecido devia acabar com a guerra entre os guelfos e gibelinos pela sucessão de Nicolau IV, morto dois anos antes.

Com lágrimas nos olhos, o eremitão suplicou aos reis que o deixassem  na sua cela  da montanha. Mas eles não cederam, e por fim, apesar de contrariado, Pedro teve que fazer-lhes a vontade. O eremitão seguiu para Roma, montado num jumento e guiado pelos dois reis, que iam descalços, dum lado e do outro do animal.

Atrás, seguia uma luxuosa comitiva de cardeais e nobres. Como a notícia da sua passagem  se espalhou rapidamente, de toda parte vinha gente para ver aquele maravilhoso espetáculo. De repente, Pedro viu-se rodeado de grande multidão e assim entrou na cidade, com os dois reis descalços, guiando o jumento, com o cortejo de nobres e príncipes que o acompanhavam, e rodeado por uma multidão que o aclamava e entoava hinos.

O novo Papa tomou o nome de Papa Celestino V.

Esse acontecimento era um grande triunfo para o filho de um pobre camponês. Entretanto, Pedro sentiu-se desgraçado e infeliz no seu palácio. Encontrava-se – homem simples e piedoso, que só conhecia a sua Bíblia – rodeado de homens brilhantes, o que não lhe deixava à vontade. Achava- se triste e solitário, e sentia-se entre conspiradores, que queriam se beneficiar com a sua presença. Suspirava pela sua cela da montanha. Queria falar, não de reis e rendas, mas sim de Deus e do seu amor divino.

Conta-se que alguém, descontente da eleição de Pedro, tramou uma conspiração para fazê-lo  sair do trono. Dispôs as coisas de forma que, durante a noite, e junto ao leito do pontífice, soassem trombetas e vozes que o incitassem a voltar para a sua ermida. Pedro julgou que aquelas vozes vinham do Céu, e recriminou-se amargamente, por ter sonhado que Deus pudesse haver elegido um eremitão, tão humilde, para Papa. Impulsivamente, abandonou o trono e fugiu secretamente do palácio. Atravessou o mar num barquinho,  mas levantou-se uma tempestade. A fraca embarcação foi jogada contra a costa, onde ele foi reconhecido, preso, e levado para um castelo. Ali viveu dez meses e morreu com 81 anos de idade, feliz  por se afastar desse mundo de tristezas e disputas, e poder ir, finalmente, à presença de Deus.

No convento Celestiano da cidade de Aquilla, na Itália, ainda hoje se vê  o túmulo do Papa Celestino V. Na história da Igreja, foi o primeiro Papa que renunciou ao pontificado. Somente no dia 11 de fevereiro de 2013, houve a segunda renuncia ao posto de Papa. A decisão de Bento XVI de renunciar ao pontificado foi um acontecimento quase inédito na história da Igreja. O único precedente conhecido era a renúncia voluntária do Papa Celestino V, há mais de sete séculos.

São Celestino V renunciou à sua função, no mesmo ano de sua eleição, em 1294. Por ter passado a maior parte de sua vida como eremita, não se sentia preparado para assumir a liderança da Igreja. Abdicou do posto em 13 de dezembro de 1294, combinado com seus cardeais. Foi canonizado em Avinhão, pelo Papa Clemente V, em 3 de Maio de 1313, sendo conhecido como São Pedro Celestino.

Violante PimentelEscritora

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